Filmes

Coreia do Sul de “Parasita” investe oito vezes mais que o Brasil em economia da cultura

A grande surpresa (positiva) do Oscar 2020 foi com certeza Parasita. O filme de Bong Joon Ho, além de contar uma excelente história, que mescla gêneros e mensagens, levou quatro estatuetas: Melhor Roteiro Original, Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Direção e Melhor Filme. O fato foi histórico, mas quem já conhecia o filme de outros festivais – vale lembrar que ele também ganhou a Palma de Ouro em Cannes – pode até ter esperado esse feito. 

Quem acompanha também o desenvolvimento histórico do cinema sul-coreano também pode não ter se surpreendido tanto. O próprio Bon Joon Ho já nos presenteou com outras várias produções excelentes, tais como O Hospedeiro (2006), O Expresso do Amanhã (2013) e Okja (2017). A coordenadora do Curso de Cinema e Audiovisual da ESPM SP, Gisele Jordão, relata que este desenvolvimento tem também um movimento importante, oriundo dos gabinetes de seus governantes. “Os prêmios desta edição do Oscar são resultado de uma política pública orientada para o fortalecimento do mercado audiovisual da Coreia do Sul ao longo de 70 anos”, aponta. “Hoje, os sul-coreanos representam o quinto maior mercado mundial de audiovisual”, completa.

Investimentos caindo no Brasil

Aqui no Brasil, nos últimos anos, o processo parece se inverter. A própria lei de incentivo, criada em 1991, no governo Fernando Collor, é frequentemente alvo de ataques com viés político. Mais recentemente, o próprio Ministério da Cultura foi extinto, passando a ocupar importância de Secretaria Nacional (isso sem falar nas seguidas trocas de comandos). Basicamente, a lei estabelece que pessoas jurídicas e físicas podem doar parte de seu imposto de renda para apoiar projetos culturais (4% no caso das jurídicas, 6% no das físicas). A lei não permite, por exemplo, recursos diretos do Governo Federal. Quando criada, não havia fomento para o cinema nacional, por exemplo, que hoje ocupa uma importante posição de criação de empregos, das mais diferentes formas.

No Brasil, a indústria do audiovisual emprega cerca de 300 mil pessoas. Dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) apontam que o país conta com 12,7 mil empresas de todos os elos da cadeia. A arrecadação anual do setor em impostos diretos e indiretos chega a R$ 3,4 bilhões.

Enquanto isso na Coreia do Sul

Já na Coreia do Sul, a isenção de impostos para o setor e uma espécie de reserva de mercado permitiu o fortalecimento dessa área cultura. Ele é atualmente o cinema mais consumido do (próprio) país, e como percebemos, um expressivo produto de exportação.

Parasita: filme da Coreia do Sul levou prêmios em todos os grandes festivais

De acordo com informações do Banco Mundial, os investimentos no setor da economia da cultura na Coreia do Sul – e com ele entra o audiovisual – foram de 26,7 bilhões de dólares em 2014, contra 3,1 bilhões de dólares investidos pelo Brasil no mesmo ano. Ou seja, muito menos. Em 2018, o Brasil investiu 2,6% do PIB em economia criativa, segundo a Secretaria da Cultura. “Os benefícios do investimento em economia da cultura são amplos. Entre os diretos, temos um mercado de trabalho mais aquecido, visibilidade para a cadeia de negócios culturais e conteúdos que apresentam o país para o mundo. Entre os indiretos, estão a abertura de novos mercados econômicos e a geração de curiosidade, tangível no turismo a locações de filmes famosos”, diz Gisele Jordão.

Além dos benefícios econômicos, o mercado audiovisual representa um importante instrumento de política mundial, como conclui Fausto Godoy, professor de Relações Internacionais. “O cinema é a ferramenta mais poderosa de diplomacia cultural. Os países da Ásia estão seguindo a mesma estratégia de sucesso dos Estados Unidos com a Hollywood do século 20”. Em sua carreira como diplomata, Godoy serviu ao Ministério das Relações Exteriores em 11 países da Ásia. “Apesar de ainda termos um caminho a percorrer no cinema, nossas telenovelas têm enorme sucesso na Ásia. Devemos pensar em mais estratégias para replicar esse sucesso no setor audiovisual como um todo”, afirma.

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