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Conquistar, amar e viver intensamente: sobre amor e escolhas | Crítica

Vocês já terminaram de assistir um filme achando que, talvez, aquele filme fosse muito mais do que vocês conseguiam entender? Um sentimento muito parecido com “talvez esse seja um filme para adultos mais adultos do que eu”. Foi exatamente assim que me senti enquanto assistia Conquistar, Amar e Viver Intensamente. Dirigido por Christophe Honoré, Conquistar, Amar e Viver Intensamente chega aos cinemas brasileiros trazendo muito drama.

Acompanhamos a história de Jacques (Pierre Deladonchamps), que é um escritor francês, aparentemente gay ou bissexual – isso não fica claro durante a história – e que é HIV Positivo na França de 1993. Entre todos os envolvimentos que vemos ele ter, o que ganha mais espaço é o com estudante bretão, Arthur (Vincent Lacoste), que é muito mais novo que Jacques.


Tem algo mais cinema francês que essa imagem?

A história em si é um grande jogo de “agora quero estar perto” e “agora não quero mais”. Jacques tem uma vida a parte de Arthur, que basicamente não se encontrariam caso não houvesse um esforço para isso acontecer – exatamente como o filme retrata. São mundos que coexistem e, eventualmente, fazem sexo (sério, essa é a melhor maneira de explicar).

Entendo que a premissa central do filme seja um romance trágico e gay, porém, ainda assim é triste ver que a relação entre a cena LGBTQ+ e o vírus da AIDS vire filme em 2018. Por um lado, sim, legal, informativo, respeitoso às pessoas que passaram por isso e os familiares, como uma voz ecoada sobre o assunto. Mas, também, esse rótulo que faz parecer que “AIDS = gay” é tão pesado que dá medo tocar nesse assunto em um tempo que a homofobia faz vítimas diariamente.

Ao contrário de outros filmes que trataram da mesma premissa, Honoré decide por não mostrar o sofrimento da pessoa que adoece como um trajeto de martírio. Ele também escolhe por não mostrar tudo o que já sabemos que acontece, como os grupos religiosos que são a favor de ajudar pessoas que estão doentes e os que condenam – temática já usada para outras produções na mesma área. Honoré opta por criar cenários quase exaustivamente azuis. Tudo parece um grande hospital, o tempo inteiro. Não importa se os personagens estão na rua, dentro de casa ou, realmente, no hospital. Quem assiste fica com o sentimento de que passou duas horas olhando o interior de um hospital parisiense no começo da década de 90.

Uma parte inegavelmente incrível de Conquistar, Amar e Viver Intensamente é como a fragilidade dos personagens é retratada. Além do conceito social envolvendo a cena LGBTQ+ de quase 30 anos atrás, é interessante perceber como as pessoas envolvidas na trama lidam com o fato de a AIDS estar se espalhando no meio. É quase cruel, porém, chega um momento no filme que os personagens basicamente aceitam que as pessoas vão morrer de um lado para o outro e não há muito o que fazer sobre isso.

Eu queria fazer um bom comentário sobre essa imagem, mas só consigo pensar sobre como esse bigode é maneiro

Sem spoilers, porém, Conquistar, Amar e Viver Intensamente traz uma cena envolvendo amor e liberdade de uma forma única. Jacques está morrendo (desde o primeiro segundo do filme, não se preocupem, não é spoiler) e as pessoas em volta dele sabem. E, ao invés de acontecerem cenas tristes e dramáticas sobre isso, há momentos de dança, álcool e cigarros. E você quase esquece tudo o que está acontecendo até os últimos cinco minutos de filme acabarem com o seu coração. Mas sério, tudo tem a ver com ser livre para poder fazer suas próprias escolhas, sejam elas “boas” ou não.

Conquistar, Amar e Viver Intensamente é um filme pesado e que beira o cansaço em diversos momentos. Com certeza, eu não sou adulta o bastante para aproveitar todas as lições que o filme tentou passar. Se você é mais acostumado com cinema francês que eu, arrisque-se!

Veredito da Vigilia

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