CríticaSéries

Coisa Mais Linda: uma ode às mulheres de todos os tempos | Crítica

No Rio de Janeiro do final dos anos 50 e início dos anos 60, as vidas de Maria Luiza – ou Malu, para os cariocas (Maria Casadevall), Adélia (Patrícia Dejesus), Lígia (Fernanda Vasconcellos) e Thereza (Mel Lisboa), se cruzam e, a partir disso, a trama de dores, delícias, vitórias e dissabores é construída, paralelamente, em Coisa Mais Linda.


O eixo central é Malu, uma moça da elite paulistana que vai atrás do seu marido, Pedro, no Rio de Janeiro, para finalizar os ajustes para o restaurante. Quando ela chega na cidade maravilhosa, ela se depara com o nada. O amado sumiu do mapa, deixando apenas roupas e dívidas. Maria Casadevall, enche a cena de muitas formas. Uma mulher belíssima e elegante, com sonhos e com muito, mas muito medo. Maria Luiza é mimada, tem um pai que duvida da capacidade da filha, uma mãe complacente e um filho que parece viver na realeza britânica. Com o sumiço de Pedro e o abandono do restaurante, ela resolve “viver de verdade”, arregaçar as mangas e, pela primeira vez na vida trabalhar. Assim surge a ideia de um clube de bossa nova.

Entretanto, sem Adélia, nada seria possível. Elas se conhecem em um momento tenso, em que Adélia salva a vida de Malu. A partir disso, dos encontros e desencontros, a moça da elite conhece um outro mundo com a guerreira Adélia, uma mulher negra, periférica e muitas vezes humilhada. É ela que faz quem está em casa assistindo ficar com nós na garganta por ver a triste realidade cultural em que ela está inserida. E, apesar de tudo, ela é uma mulher forte, uma mãe excelente e não deixa a peteca cair nunca.

Lígia é a amiga de infância de Malu, que sonhava em ser cantora. Com a vida tomando outro rumo, se envolve com um homem que só quer saber dele mesmo. Não apoia a esposa e a diminui. Lígia protagoniza, assim como Adélia, as cenas mais fortes e pesadas, mas necessárias, da série. O casamento de vitrine, que parece ser lindo para quem olha, esconde agressões e estupros matrimoniais, que pouco se fala, mas muito acontece.

Por fim, temos a espirituosa e corajosa Thereza, uma jornalista forte à frente de uma revista feminina, onde só trabalhavam homens. Criticada por trabalhar, ela não liga. Continua seguindo a vida dela e buscando uma realização profissional muito questionada nos anos 50. É uma mulher totalmente à frente do seu tempo.

coisa mais linda - vigilia nerd
Um brinde às mulheres

Cores e músicas fazem parte da construção de Coisa Mais Linda. De Patricia Corso, Leonardo Moreira e Luna Grimberg, e dirigida por Caíto Ortiz, Hugo Prata e Julia Rezende, a série inova no ramo. Com um ar novelesco (e isso não é uma crítica, muito pelo contrário), vemos em cena uma qualidade visual incrível. Em muitas partes parecido com o que é apresentado em Maravilhosa Mrs. Maisel, a premiada série da Amazon Prime, Coisa Mais Linda é brasileira e isso é genuinamente positivo.

Com fotografia, estética e poéticas quentes, se pode ver o cuidado com a produção. Durante os tempos felizes (e outros nem tanto), o sol é um personagem também. A luz amarelada, do sol esquentando o rosto dos personagens, faz uma alusão perfeita ao novo e ao criativo. Maria Luiza está sempre iluminada, uma luz que está do lado de fora, mas que, pela construção da personagem, também está do lado de dentro. A bossa nova e o samba embalam a série, de uma forma em que fica muito leve de assistir. Os ambientes também são meticulosamente calculados para parecerem na verdadeira década de 50/60. Tudo é feito com muito cuidado e dá muito certo. A qualidade técnica é inegável.

Uma série com protagonistas mulheres para espectadoras mulheres. Os homens podem se divertir assistindo essa nova produção brasileira da Netflix, porém, não vão sentir na pele como uma espectadora mulher. É uma delícia ver uma série tão feminina, com dilemas e sentimentos que nos identificamos. Machismo no local de trabalho, falta de respeito nas relações (amorosas ou não), responsabilidade com os filhos, carga mental e dificuldade para fazer coisas burocráticas só por ser mulher. A discussão do papel na sociedade volta o tempo inteiro. Tudo isso e muito mais é abordado durante a narrativa.

A primeira temporada de Coisa Mais Linda, com sete episódios, estreia dia 22 de março na Netflix.

Veredito da Vigilia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *