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Clint Eastwood debate diversidade, terceira idade e redenção em “A Mula” | Crítica

Em uma mais do que consolidada carreira de diretor, o ícone do cinema norte-americano, Clint Eastwood, retorna debatendo vários temas em “A Mula” (The Mule), que estreia no Brasil dia 14 de fevereiro. Em um filme que oscila humor, drama, diversidade, terceira idade (e seus poucos filtros) e redenção, ele conta a história de um senhor de 90 anos, Earl (interpretado pelo próprio Eastwood) que passa a trabalhar de mula, transportando drogas por diferentes cidades nos Estados Unidos. O longa é baseado em um artigo publicado no The New York Times que contava exatamente essa história: um aposentado de 90 anos que trabalhava para o cartel de Sinaloa. Portanto, novamente a arte imita a vida. Prepare a pipoca, pois A Mula é um filme que vai satisfazer suas expectativas por um bom filme.

É interessante demarcar o quanto Clint Eastwood conseguiu dialogar com o público, seja você mais velho ou mais novo, de forma fluída durante toda a trama. Logo de cara somos apresentados ao seu personagem. Earl nunca ligou para a família. Perdeu todos os grandes momentos da vida da filha – leia-se crisma, 15 anos, formatura, e até casamento. Tudo porque para ele só o que importa é seu trabalho no cultivo e venda de lírios e suas convenções, onde costumava ser o centro das atenções. Mas como muitos na vida, ele não se atualizou. Afinal, quem precisa da internet, não é mesmo? Com a chegada das lojas virtuais, seu negócio entra em falência, e tudo que lhe importava é hipotecado. Coincidentemente ele fica sem chão durante a festa de noivado da neta Ginny (Taissa Farmiga, de A Freira), quando finalmente recorre à família. E claro, as coisas não saem muito bem. É quando a gente se pergunta. Mas como um senhor de 90 anos passa a ser mula de um grande cartel de drogas? Bom. Clint Eastwood resolve isso em um rápido diálogo.

A partir daí, vemos o velho Earl entrando em um mundo novo. E esse mundo vai de certa forma lhe encantar e apresentar novas possibilidades. Graças ao novo “emprego”, ele consegue ajudar a neta com a faculdade. Em pouco tempo ele também vai trocar seu Ford 1970 por uma caminhonete de fazer inveja aos grandes empresários brasileiros. Até mensagens de texto no celular ele aprende a mandar. Mas tudo que vem fácil, vai fácil, e Earl passa de apenas algumas corridas a ser o principal motorista do transporte de cocaína. Afinal, ele é o disfarce ideal para uma sociedade que julga pelas aparências. E isso fica escancarado durante o filme, em várias situações que você até poderá rir, mas sabe que não deveria.

Para contar a história de “A Mula”, Clint Eastwood, que já tem 40 filmes dirigidos na carreira, contou com o apoio de um elenco de peso. Bradley Cooper, da parceria de Sniper Americano, reaparece como o policial Colin Bates. Michael Peña volta a ser policial (depois da excelente temporada de Narcos: México), como o agente Trevino, Laurence Fishburne é o chefe da dupla, e a excelente Dianne Wiest é a ex-mulher de Earl, Mary. Ainda completa o time uma grande ponta de Andy Garcia como o chefe do narcotráfico, Laton. Todos muito bem encaixados na história, engrandecendo ainda mais o filme.

Ao longo do tempo, Earl vai se dando conta de tudo que perdeu

E com essa construção inusitada, Earl acaba sendo vítima de um sistema que realmente matou muita gente. Calma, não é o que você está pensando. Em determinado momento, isso até vira piada quando ele entra em uma festa regada de música caribenha, mulheres sensuais, e tudo de bom e do melhor em comidas e bebidas. A emoção de poder ajudar a família, um clube de veteranos e resgatar o seu próprio negócio acaba empolgando o senhor de idade. Sem filtro nenhum, e com pouco, ou quase nada a perder, ele só se dará conta do que está fazendo quando for tarde demais. Aí entram os momentos mais emotivos, que trazem a reflexão toda do filme. O tempo e como gastamos ele. Será que o fazemos da melhor forma?

Uma coisa é certa. Se você gastar seu tempo com “A Mula” terá feito um grande investimento. A Vigília Recomenda.

Veredito da Vigilia


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