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A Cidade dos Piratas: caótico, divertido e insano | Crítica

Otto Guerra comemora os 40 anos da sua produtora estreando mais uma vez um filme no Festival de Cinema de Gramado. A Cidade dos Piratas é uma animação bem característica do diretor, que parece ter saído diretamente de suas próprias obras. “Este filme era para ser um filme póstumo. Olha a vergonha que estou passando, não morri e estou aqui”, declarou o diretor, às gargalhadas. A sinopse do filme já entrega o que teremos pela frente: “Um diretor de cinema se vê diante de uma situação complexa: o autor da história passa a negar os personagens principais da trama. Em uma tentativa desesperada de terminar o filme, ele decide contar seu drama, criando um labirinto caótico entre a ficção e a vida real”.

A Cidade dos Piratas passou por dez roteiristas e terminou em Rodrigo John, que conseguiu concentrar as cinco ideias que Otto tinha para o filme em 80 minutos de diversão non-sense, questionamentos e homenagens, além de muito do próprio Otto, da sua vida, produtora, brigas e até da sua doença. Outro elemento do longa é a história do cartunista Laerte e seus personagens. “Piratas do Tietê”, tirinhas publicadas em 1983, foram o mote central do filme, que recebeu muitos e muitos outros personagens, traçando uma linha atemporal em sua história.

Otto Guerra levou o Prêmio Especial do Júri por A Cidade dos Piratas. Foto: Edison Vara / Pressphoto

A trama vai, vem e recomeça, com personagens que estão em seus núcleos particulares e não se conversam entre si, mas que fazem sentido, na medida do possível, durante o longa. A própria Laerte dá vida ao personagem que o representa, assim como Otto Guerra. Além deles, temos grandes nomes da televisão brasileira, como Marco Ricca e Matheus Nachtergaele.

O maior mérito do filme foi trazer, mesmo que de maneira caótica, questões muito pontuais do cenário político brasileiro à tona, além do preconceito e da mortalidade de pessoas trans no Brasil.

A Cidade dos Piratas é uma obra absurdamente autoral de Otto Guerra. É ele, pleno, confuso e maluco, na tela. Mas é uma viagem divertida.

Otto Guerra ganhou o Prêmio Eduardo Abelin na edição de 2017 do Festival de Cinema de Gramado. Nesta edição, A Cidade dos Piratas recebeu uma menção honrosa da crítica.

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