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Calmaria: nada é o que parece | Crítica

Pare de julgar os filmes pelos trailers, cartazes e divulgações oficiais. Pare de julgar o livro pela capa. O ditado clássico é mais do que certeiro em Calmaria (Serenity), novo filme de Steven Knight (roteirista que tem em seu currículo ‘Coisas Belas e Sujas’ e ‘Senhores do Crime’) que estreia em todo o Brasil no dia 28 de fevereiro. Apesar de parecer a história de um capitão de um barco em uma praia paradisíaca, com um passado tumultuado e que vai lhe cobrar um preço no presente, esse suspense pode lhe surpreender de uma forma um tanto inesperada. Para cozinhar a história em fogo baixo do início ao fim, temos os vencedores do Oscar, Matthew McConaughey (Clube de Compras Dallas) e Anne Hathaway (8 Mulheres e Um Segredo, Os Miseráveis). Completam o time principal Diane Lane (House of Cards, Liga da Justiça), Djimon Hounsou (Capitã Marvel) e Jason Clarke (O Primeiro Homem, A Maldição da Casa Winchester).

McConaughey é Baker Dill, um pescador que ganha a vida levando turistas para pescar. Mas ele tem uma forte rixa com um peixe. Pode parecer estranho ao ler, mas faz sentido no filme, e claro, tudo é uma espécie de metáfora. Não por acaso, o peixe que ele quer pegar é um atum, um dos mais difíceis na pesca em alto mar. E não por acaso, novamente pela metáfora, esse peixe é apelidado como “Justiça”. As coisas vão mal financeiramente para Dill, que ainda precisa pagar o seu funcionário e melhor amigo Duke (Hounsou). É quando surge em sua vida, ou melhor, retorna, a sua ex-namorada Karen (Anne Hathaway).

Calmaria? Nada é o que parece!

E com a ex, vem também uma nova camada na vida do pescador. Um filho que ele não vê há anos e uma mulher vítima de sucessivas agressões por parte do marido milionário Frank Zakarias (Jason Clarke… sim, evidentemente Clarke é o vilão da história). As cartas são colocadas na mesa quando Karen pede “encarecidamente” que Dill mate o atual marido em alto mar e acabe com a vida sofrida dela e do filho. Mas, como já citei no primeiro parágrafo, nada é o que parece. E aqui está a beleza do filme.

Você quer um vilão com cara de mal? Chama o Jason Clarke

Quando tudo está exposto e a tendência é já projetar tudo que vai acontecer, Calmaria entra em situações bem diferentes. E de formas um tanto quanto disruptivas para um primeiro arco todo rodado em uma praia, com pessoas simples e sem qualquer noção de influências tecnológicas. Talvez a intenção aqui fosse inspirar uma história digna de Christopher Nolan, em seus melhores momentos de A Origem e Interstellar. Infelizmente não chega a tanto, mas o enredo consegue se expressar muito bem com as metáforas criadas. Impossível salientar isso em uma crítica sem estragar as surpresas do filme, portanto, insisto na tecla de que “nada é o que parece”.

As interpretações são convincentes (com este elenco ficaria difícil errar) e a história de Calmaria vai lhe prender até o final, embora você comece a se perguntar durante o fechamento da trama se tudo aquilo realmente combina e está de acordo com a história que roteiro e direção gostariam de contar ou conduzir. Embora as pistas apareçam, elas nem sempre fazem tanto sentido. Mas não se preocupe, pois a virada final vai deixar tudo muito bem mastigado. E aí quem sabe um dos maiores deslizes do filme como um todo: mastigar demais o desfecho. Embora não se julgue um livro pela capa, é no final, na última página que ele precisa entregar, emocionar, sensibilizar e realizar. Apesar de bem executado, Calmaria não ganha pontos suficientes alcançar esses quatro verbos.

Veredito da Vigilia

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