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Bohemian Rhapsody, com o Queen não tem como dar errado | Crítica

Fazer um filme musical com toda a herança histórica do Queen e seu frontman Freddie Mercury é basicamente como escalar o ataque do seu time com Cristiano Ronaldo, Suárez e Messi (chora Neymar). É como fazer uma receita de sobremesa que leva chocolate e nutella. É como ir ao cinema com pipoca e refrigerante. A possibilidade de alguma coisa dar errado é próxima de zero. E, para alívio de muita gente, é assim com Bohemian Rhapsody, o filme-evento assinado por Bryan Singer (franquia X-Men, Os Suspeitos). Então seguindo regras básicas de roteiro, bons atores e uma recriação dos anos 70 e 80 impecável, a receita do sucesso está mais do que garantida.

Embora a produção tenha passado por alguns maus bocados – Singer foi mais um diretor que se meteu em confusões e acusações de abuso – a história está toda lá, regada a uma trilha sonora certeira com os grandes momentos do Queen. Mais do que isso, o longa conta parte também da história contemporânea da música e do rock, mesclando artistas, a vida de Freddie Mercury (Rami Malek), o melhor vocalista (jamais veremos igual) do mundo, e dos igualmente talentosos Brian May (Gwilym Lee), Roger Taylor (Ben Hardy) e John Deacon (Joseph Mazello). Aliás, se você estava nervoso com a interpretação de Rami Malek (Papillon), pode ficar tranquilo. Ele, junto dos demais, estão devidamente bem colocados em aparência, tom e interpretação. Até aqui, só acertos!

O Queen em seu splendor! Gwilym Lee é Brian May e Rami Malek dá vida a Freddie Mercury. Créditos:Alex Bailey

Desde o início dos créditos, você já sente que está prestes a entrar em um grande show. Inclusive a abertura da 20th Century Fox ganhou uma nova versão com as batidas e o toque da guitarra de Brian May. Aquele capricho que já conquista o público nos primeiros segundos. Embora o roteiro não seja grandioso, cumpre seu papel do início ao fim, e, como basicamente quase todas as cinebiografias, inicia e fecha a história de seu ponto de partida: nada mais nada menos que a lendária apresentação do Queen no Live Aid, em 1985.

O grande lance de obras como essa é poder entrar nos bastidores e conhecer as pessoas antes de se tornarem pessoas públicas, ou, como no caso do Queen, verdadeiras lendas. E isso fica bem colocado com os jovens músicos na clássica Inglaterra dos anos 70. Um mirrado Farrokh Bulsara, antes carregador do maior aeroporto do mundo, dava seus primeiros passos para entrar, de forma surpreendente na banda “Smile”, que agradava universitários em alguns pubs da vida. E foi o excêntrico vocalista natural do Zanzibar que trouxe a coragem e a gana para os músicos, que na verdade eram um dentista (Taylor), um astrofísico (May) e um engenheiro (Deacon), gravarem seu primeiro álbum, e com o tempo, serem catapultados ao mundo com o primeiro empresário e gravadora. E claro, não podemos deixar de lembrar da namorada e futura esposa de Mercury, Mary Austin (Lucy Boynton de Sing Street: Música e Sonho).

A banda em seu maior show, mas com a ressalva dos efeitos especiais

Tal qual como um videoclipe (padrão para os filmes de banda) vemos o tempo passar e o Queen dominar o topo das paradas, em grandiosas turnês e todo o esplendor envolvendo grandes nomes da música. E claro, com a estrada vem o reconhecimento, a grana, novas pessoas – entre elas o grande empresário Ray Foster e uma piada certeira com o ator Mike Myers – e até mesmo algumas outras descobertas. Vemos como clássicos foram escritos (alguém gritou Bohemian Rhapsody?) e alguns shows memoráveis, inclusive o do Rock In Rio e um pequeno vislumbre do nosso país com direito a uma trilha bossa nova. Com tudo isso colocado, uma sala de cinema que priorize o áudio é uma pedida e tanto.

Mas é claro, que nem tudo são flores e adentramos em momentos de total conflito. A briga de Freddie com a esposa, a quem havia jurado amor eterno, a negação pela sua orientação sexual – em determinado momento ainda temos um diálogo que é um soco na cara da sociedade (para não dizer do futuro presidente) – e a clássica treta dentro da banda, que precisa acontecer. E mais a carreira solo, que daria pra traçar trocadilhos com “carreira” e “solo”.

Como dizia Raul Seixas (heresia citar ele numa crítica do filme do Queen, peço desculpas), tudo acaba onde começou. E nesse desfecho, muita música (muita mesmo!), empolgação, nostalgia, aplausos e lágrimas, deixando o público verdadeiramente nas nuvens. E claro, a escolha da remontagem de um dos maiores shows da banda acaba dando aquela escorregada nos efeitos visuais. Mas nada que vá lhe tirar o sorriso (ou as lágrimas) do rosto no final da sessão.

A Vigília recomenda balançando a cabeça ao som de Bohemian Rhapsody.

Veredito da Vigilia

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