CríticaSéries

Big Little Lies é mais uma vitória da qualidade | Crítica

Não tem mais volta. A alta qualidade das séries hoje em dia está se transformando quase que em um pré-requisito. A segunda temporada (será a última?) de Big Little Lies é mais um grande exemplo de que investir em aspectos técnicos e nomes afirmados em Hollywood, salvo exceções, sempre será resultará em bons produtos. Se Big Little Lies já havia faturado importantes premiações em 2017 com sua primeira temporada, o mesmo deve se repetir muito em breve. Os novos sete episódios de 2019 mantiveram a primazia da temporada de origem e adicionaram um ingrediente quase imbatível: Meryl Streep. Na pele da avó Mary Louise, ela precisou de pouco tempo para se tornar aquela personagem que “amamos odiar”. E claro, ela abrilhantou ainda mais uma constelação já formada por Nicole Kidman (Celeste), Reese Witherspoon (Madeline), Shailene Woodley (Jane), Zöe Kravitz (Bonnie) e Laura Dern (Renata). Convenhamos que há uma covardia bem clara em todo esse elenco.

Para começar a segunda temporada, é interessante pensar: será que ainda há o que contar nessa história que parecia ter sido resolvida em 2017? Em apenas alguns minutos do primeiro episódio da segunda temporada, temos a resposta que sim, ainda há o que abordar na saga das “Cinco de Monterey”. Apesar da afirmativa, temos vários flashbacks usados da primeira temporada, o suficiente para manter o nome de Alexander Skarsgard nos créditos iniciais. O personagem Perry, mesmo morto, ainda atormenta bastante a viúva Celeste. De quebra, percebemos arestas que precisam ser aparadas em cada um dos núcleos. Madeline precisa reaver o casamento. Jane superar um trauma que novamente será remexido, Bonnie terá que conviver com os atos incidentais e o relacionamento com a mãe e o marido. Até mesmo a bem-sucedida Renata (a nossa barraqueira preferida) sofrerá um revés. E por fim, Celeste, que levará grande parte da trama com seu relacionamento e comportamento que levam Mary Louise a querer a guarda de seus filhos. Acabou? Não. Ainda temos o grande segredo (ou seria grande mentira?) das amigas aparecendo em vários ciclos sociais.

Você vai odiar Meryl Streep. Sinal de mais um grande desempenho da atriz

Este segundo arco de Big Little Lies foi basicamente uma grande vitória. David E. Kelley, o criador da série (baseada e roteirizada no trabalho de Liane Moriarty) e a diretora Andrea Arnold mantiveram a pegada acertada em 2017 e tiraram ainda mais do que se podia esperar da trama, sempre abraçados em atuações primorosas. Por mais que os problemas das personagens (todas ricas, bem sucedidas e que moram em uma cidade absurdamente bela na Califórnia) sejam unicamente criados por elas mesmas, fica fácil se apegar a todas. E mesmo com dilemas “de gente rica”, pra sermos bem francos, há sim muita tensão no ar, e os diálogos muitas vezes chegam como pedradas ou algo que possa realmente ferir fisicamente. Há cinismo, maldade, e muito egoísmo em grande parte do que assistimos. Sem esquecer, temos novamente a trama da violência doméstica, algo que infelizmente é quase normalizado em muitas sociedades atualmente. Entender que se pode estar vivendo em um relacionamento abusivo e como ele pode prejudicar uma família inteira é necessário, por mais doloroso que seja. É preciso enfrentá-lo.

A grande mentira perseguiu as amigas até o final

Por mais que se tenha apego a esta grande produção da HBO, é interessante pensar que este novo arco encerrou de vez Big Little Lies. A segunda temporada foi uma vitória, mas talvez tentar novas histórias possa tirar o brilho do que já foi feito e dos caminhos já percorridos. Vale reforçar que grande parte das noções que funcionaram na primeira temporada foram repetidas aqui. Principalmente a edição que nos joga flashes e vislumbres (por vezes uma forma trapaceira de narrativa) para que o expectador se incline a pensar de uma maneira específica. Normalmente depois deles, vemos que o que acontece é bem menos impactante, quase apenas trivial. Em Big Little Lies, nem sempre se poderá apelar para dramas pessoais e sociais, ainda mais em uma cidade tão pacata quanto Monterey. As cinco personagens disseram a que vieram e fizeram bonito. Mas é importante entender que nem sempre vale a pena esticar uma série, por mais criatividade que exista (adoro queimar minha língua nessas situações). Big Little Lies é uma vitória da qualidade e seu desfecho foi grandioso o suficiente para todo seu elenco cheio de estrelas. E no mundo das séries, é melhor morrer cedo para virar herói do que viver o suficiente para se tornar vilão. O paralelo com Game of Thrones não é mera coincidência.

Veredito da Vigilia


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *