Atypical | Crítica
Crítica por Bruna Monteiro
A primeira coisa que você deve saber sobre essa série que estreou na Netflix na sexta-feira, dia 11 de agosto, é que ela não é sobre um adolescente com autismo. Ela é sobre uma família.
Sam (Keir Gilchrist), um adolescente de ensino médio de 18 anos está em busca do amor. Nesse caminho, algumas dúvidas surgem. O que é o amor? Como sabemos que estamos amando alguém? Essas são algumas das perguntas que o nosso protagonista faz, nos fazendo também refletir sobre esse e outros temas cotidianos que nem nos damos mais ao trabalho de tentar compreender. Sam aprendeu mais nessa trajetória de oito episódios do que eu aprendi o ano inteiro, aparentemente.
Podemos acompanhar os sentimentos e pensamentos de Sam pelas suas conversas com sua terapeuta, Julia (Amy Okuda). Ela tenta ajudá-lo a enfrentar esse período tão complicado, dando dicas de como se socializar e como lidar com garotas. Enquanto isso, em casa, sua mãe reluta em entender a situação, encontrando assim, um bom conselheiro em seu pai (Michael Rapaport).
Zahid (Nik Dodani), seu melhor amigo e colega de trabalho (ambos trabalham em uma loja de artigos eletrônicos) faz o tipo garanhão abobado. Sam o tem como referência, apesar de seus palpites nem sempre estarem certos. Mesmo assim, o amigo o guia em bares de striptease, conversas com garotas e o incentiva a tomar atitudes.
Sua irmã, Casey (Brigette Lundy-Paine), também uma adolescente, é um ponto importante da trama. Ela é um suporte de Sam, entende sobre as suas necessidades, mas, ao mesmo tempo, é como qualquer outra irmã, implicante e intrusiva. Uma personagem feminina e jovem muito bem representada. Atualmente é fácil ver produtores e roteiristas buscando personagens que simplesmente “completem” a história, sem dar um aprofundamento maior às suas personalidades. Casey é decidida e madura, ao passo de que também é emotiva e teimosa.
Um outro destaque vai também para Jennifer Jason Leigh, que dá vida à Elsa Gardner, a mãe. Vemos o quanto de si ela deu nesses 18 anos, lutando sempre por proteger e ajudar o seu filho. A complexidade da personagem está em perceber que filhos crescem, que mães podem ter suas “próprias” vidas, sem que seus filhos sejam a única coisa importante do seu cotidiano. E isso é lindo.
Ao longo da história, fica bem claro como foi lidar com o transtorno de Sam durante todos esses anos. É destacado o envolvimento ativo de Elsa em grupos de apoio e aconselhamento para famílias com filhos no espectro (forma correta de citar o autismo).
Esse é um ponto alto da série: o quanto todos os personagens são bem desenvolvidos, tendo seus próprios dramas, dúvidas e problemas, tendo que lidar com tudo isso em uma família, assim como a maioria de nós. Nem a terapeuta de Sam fica de fora. Sua história, mesmo que não essencial à trama, adiciona ao podermos perceber as coisas por mais um ângulo.
Essa comédia dramática escrita pela mesma roteirista de How I Met Your Mother, dá um show de leveza, mesmo tratando sobre um assunto tão delicado. Além de divertida, a série é muito educativa para aqueles que não possuem contato com pessoas com algum tipo de deficiência. No caso de Sam, aprendemos a utilizar alguns termos, para que, dessa forma, não soe ofensiva a menção ao autismo.
É uma história contínua, tendo um episódio como complemento do outro. O episódio final deixou uma boa abertura para uma nova temporada, dando a entender que algumas coisas podem mudar para a família Gardner.
Como a família lida e se adapta ao filho é uma boa lição para todos nós, que, por muitas vezes, não percebemos a dor e a carga do outro. Ainda falando sobre sexualidade, virgindade, traição e bullying, esses oito episódios de trinta e poucos minutos passam voando!