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Armageddon Time, de James Gray, é feito para refletir

Armageddon Time, o novo trabalho do diretor James Gray (Ad Astra, Os Donos da Noite), chega aos cinemas brasileiros no dia 10 de novembro. Em sua nova empreitada temos um filme regular, que mantém o ritmo, e entrega uma ótima história. Ainda que não seja o filme que vá ficar martelando em nossa mente por muitos dias, ele traz uma interessante mensagem e certamente vai entrar no hall de filmes selecionados para serem discutidos em diferentes salas de aula. Armageddon Time é um recorte histórico, que mistura realidade com ficção, e nos envolve por seus personagens e dramas quase que mundanos. Para quem conhece o trabalho de James Gray, o longa segue de forma muito linear a sua carreira. Aliás, o longa é inspirado na sua vida escolar no Queens, em Nova York, na década de 80. 

Para ilustrar a história do próprio diretor, acompanhamos o menino Paul Graff (vivido por Banks Repeta, de O Telefone Preto e O Diabo de Cada Dia). E James Gray o cercou com Anne Hathaway, como sua mãe Esther, Jeremy Strong, seu pai Irving, e Anthony Hopkins (Meu Pai), como seu avô Aaron. E amparado com esse elenco, o talento dele cresce ainda mais. Na história, o rapaz tem seus talentos voltados para a cultura e a arte, o que não é bem compreendido pela escola e professores dos anos 80, que baseiam sua mentalidade em decisões técnicas e pragmáticas (para não dizer obsoletas). E esse pensamento permeia sua escola e família. Inicialmente na escola pública, ele precisa se adaptar a uma mudança drástica ao ir para um colégio mais caro em função de atos infantis (mas ainda assim infrações) ao lado do seu amigo Johnny.

Paul e Aaron Rabinowitz em ARMAGEDDON TIME Cred. Anne Joyce / Focus Features

Johnny (Jaylin Webb), apesar de coadjuvante, é o ponto mais sensível do longa. O jovem negro e que vem seguidamente repetindo de ano é basicamente um fantasma para a sociedade em que vivem. Ele não tem pai e mãe, e sua avó debilitada sequer sabe o que ele enfrente diariamente. A amizade fortalecida com Paul, de família judia e segundo ele “muito rica” (spoiler: não é), como podemos imaginar, não é bem vista por nenhum dos adultos. Junte a este contexto todo a era de Ronald Reagan, onde todos acreditavam estar a beira de uma crise ou guerra nuclear, daí vem o título Armageddon Time. A sensação nos adultos é que isso vai realmente acontecer.  

Armageddon Time é uma história de amadurecimento de toda uma família. Anne Hathaway é uma mãe esforçada, mas inexperiente. Ela se ampara em seu pai (Hopkins), a figura central da família. O pilar que reúne ternura e firmeza, é também o único que consegue se conectar, entender e passar a mensagem para o pequeno e sonhador Paul. A relação deles é ótima, trazendo bons momentos familiares. Mas Hopkins é também um avô doente, que está prestes a passar o cargo de pilar da família para o pai (também esforçado, mas inexperiente), que é vivido de forma contundente por Jeremy Strong. É possível dizer que é fácil se identificar com qualquer um dos personagens.

Anne Hathaway é Esther Graff e Jeremy Strong Irving Graff. Cred. Anne Joyce/Focus Features

Ainda longe de uma era de comunicação e entendimento completo entre pais e filhos, Armageddon Time é o retrato quase melancólico de uma época recente. O filme vai costurando aos poucos as relações e colocando em conflito as gerações e seus pensamentos, dentro e fora do núcleo familiar. Aborda racismo, empatia, pensamento crítico e político, xenofobia e amizade. Tudo isso num combo muito orgânico. O seu final pode ser visto como pouco impactante, mas é um convite à reflexão. Pare para pensar na última cena e os motivos que levam o nosso protagonista a deixar o prédio da escola olhando para baixo. O simples fato de parar pra pensar já é um grande mérito do filme. Pare, olhe… respire e pense.

Veredito da Vigilia

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