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Amityville: o despertar | Crítica

Após diversos adiamentos, o filme de Franck Khalfoun estreia nos cinemas em 14 de setembro.

Amityville: o despertar é um filme que acerta em alguns momentos e deixa a desejar em vários outros, e é preciso ter em mente que ele não permite que saiamos do cinema com sentimento de prazer. A sensação é de débito para quem esperava ter alguns sustinhos no caminho. Deixemos de lado a parte risível do filme, por hora, e vamos aos poucos pontos positivos dessa nova versão (original) para a adaptação do livro “A Noite de Horror dos DeFeo”. O que mais cativa na narrativa é como ela brinca com a linha entre ficção e realidade. E cativa mesmo! Porque o roteiro é muito bem construído na ligação que ele faz com os filmes anteriores sobre Amityville, que se originam do livro, que, por sua vez, se baseia em uma história verídica e macabra. Os fatos são que, em 1974, Ronald DeFeo Jr. (não se sabe se com ajuda ou não porque seus depoimentos foram inconsistentes) matou a tiros seu pai, sua mãe e seus quatro irmãos enquanto eles estavam supostamente dormindo em suas camas. O massacre deu origem ao livro “A Noite de Horror dos DeFeo”, de Ric Osuna (2002), construindo a ideia de que DeFeo Jr. foi impelido por vozes que o guiaram e o fizeram matar toda a sua família.

O livro volta à tona agora em um roteiro criativo que trabalha com o fato de já terem sido feitos filmes, reboots e remakes adaptando a obra (o que já se pode considerar uma franquia em virtude da quantidade extensa de títulos) e com o fato do próprio livro ser um retrato do que aconteceu de verdade na tal casa do número 112 na Ocean Avenue. É interessante, e ao mesmo tempo cômico, a ênfase que é dada não apenas citando filme dentro de filme, mas porque isso está integrado na história, que é explicada a partir das obras já realizadas. Outro ponto alto no roteiro e em sua execução é a escolha por usar sonhos para os sustos – nem sempre eficazes, mas que conseguem configurar certa atmosfera de tensão. Neste aspecto, é legal como a iluminação é alternada deixando evidente quando é sonho (ambientes ficam mais claros e amarelados) e quando é realidade (mais escuro, de um acinzentado puxando pro preto). Ademais, Amityville: o despertar conta com atuações convincentes e compramos o descompasso da mãe (Jennifer Jason Leigh), a inocência da filha mais nova (Mckenna Grace) e a angústia crescente da filha mais velha (Bella Thorne), que é a nossa protagonista e a única que desconfia de que as coisas não estão indo pelo caminho certo, percebendo que a família está prestes a ruir naquela casa maligna.

Porém, a realização do filme não aproveita os potenciais de seu elenco e a originalidade do roteiro se transforma em algo piegas e cansativo, além de muito previsível. O principal ponto negativo está no fato de que terror não é para fazer rir. Terror é pra pular da cadeira; ficar vidrado sem conseguir respirar. No filme mesmo um personagem fala o que é assistir filme de terror e como é mais legal ainda se compartilhado com amigos. Mas Amityville: o despertar não consegue alcançar esse nível, ao passo que me cansou ao mesmo tempo que me fez rir por ser incapaz de estabelecer uma conexão angustiante, muito menos aterrorizante. Sem falar que tem personagens que somem! Até fiquei esperando que eles voltassem no final para justificar sua ausência no momento de maior conflito, mas não. E eles eram importantes, foram elementares para fazer crer de que não era só imaginação e o perigo era real. Um desperdício.

Enquanto inova, o filme também esquece de envolver e prender nossa atenção até o fim. Ele se destaca por não precisar trabalhar com artifícios de trilhas que nos levam a sustos (quando a música guia e já esperamos sermos surpreendidos ao seu fim), mas isso é perigoso e no caso desse filme em específico nem sempre funciona, isto é, a surpresa do susto às vezes não convence e saímos frustrados pelo erro. O clímax do filme também não ocorre bem. É apressado e previsível e poderia ter sido bem mais amarrado.

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