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Alma de Cowboy: realidade e ficção se misturam no drama original Netflix

Alma de Cowboy, o novo filme original da Netflix, estreia na sexta-feira, dia 2 de abril, e embora seja uma ficção, é também um relato real de uma comunidade que, de certa forma, luta para se manter. Apesar de se ancorar em um título que possa remeter ao imaginário de filme western, o longa que traz Caleb McLaughlin (Stranger Things), como o protagonista Cole, ao lado de Idris Elba, como seu pai Harp, é uma história muito diferente do que estamos habituados. Ele não é só sobre o drama familiar de um garoto negro de 15 anos, expulso da escola e que é obrigado pela mãe a ir morar com o pai em outra cidade. É sobre gentrificação, amor pelos animais e como o mundo é capaz de mudar as comunidades sem entendê-las por completo. 

É preciso falar que Alma de Cowboy (Concrete Cowboy) é um filme muito acima da “média Netflix”. Não à toa fez parte da seleção oficial do Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2020. Em relação à “média Netflix”, leva-se em conta que a produção não se ampara em algoritmos ou fórmulas de sucesso puramente de entretenimento. É um filme original com assinatura, com crítica social, e que sai do lugar comum dos filmes que o serviço de streaming costuma lançar semanalmente. E veja bem, isso é positivo. Um elogio, afinal de contas. A história é baseada no romance “Ghetto Cowboy” de G. Neri, e a direção é do estreante Ricky Staub, com roteiro escrito junto de Dan Walser. Idris Elba, que mescla participações em filmes como O Esquadrão Suicida e A Grande Jogada e Depois Daquela Montanha, é um dos produtores.

Caleb e Jharrel Jerome brilham em Alma de Cowboy
Alma de Cowboy: Caleb McLaughlin e Jharrel Jerome se destacam no longa

Com essa pegada de cinema indie, Alma de Cowboy nos surpreende pelo drama inicial de Cole (e você vai se apavorar em ver a atuação, e o tamanho, de Caleb, o Lucas de Stranger Things), mas nos coloca em uma jornada que vai além dos núcleos familiares conturbados. Isso porque Cole é abandonado (ou devolvido) ao pai que reside na localidade conhecida como Fletcher Street Stables, no norte da Filadélfia. A comunidade real é bem o que o nome diz: mistura ruas urbanas com estábulos, e claro, dentro deles, muitos cavalos. Isso tudo cria uma atmosfera muito própria, pois a comunidade realmente existe e luta para se manter como um refúgio para moradores há mais de 100 anos. Os estábulos e os trabalhos com os cavalos são uma espécie de ONG que tira as pessoas das ruas e de escolhas ruins que a falta de oportunidades normalmente acarreta. Inclusive vários dos residentes são protagonistas do filme, com aparições que são tão convincentes que nem se questiona se são ou não atores profissionais.

Ao ser jogado a nova realidade, ocasionada por a decisão de uma mãe já desesperada, Cole percebe que o pai não lhe dará a devida atenção. E naquele bairro, se a família não lhe dá atenção, amigos como Smush (interpretado pelo ótimo Jharrel Jerome, de Olhos que Condenam) podem ser um escape perigoso. Na luta por se reencontrar na vida, Cole se vê dividido entre ganhar um dinheiro fácil, mas de forma arriscada, ou trabalhar limpando estábulos, enquanto vê a admiração de todos por um pai que lhe é ausente. No meio disso tudo, sobra espaço ainda para criar novas raízes e uma paixão de verão.

alma de cowboy atores
Ivannah-Mercedes é Esha, Lorraine Toussaint é Nessi, Idris Elba é Harp, Caleb McLaughlin é Cole, Jamil “Mil” Prattis é Paris e Cliff “Method Man” Smith interpreta Leroy.

Mas em um bairro carente e que está passando por mudanças drásticas, a polícia e os departamentos sanitários andam com a Fletcher Street Stables na mira. E esses novos ingredientes são trabalhados com competência por todos os atores. O clima quente do verão em estábulos urbanos na Filadélfia ainda nos traz alguns incômodos extras. Toda a ambientação de clima e cores eleva a qualidade do filme. Além do drama vivido por Cole e seu pai, a dúvida sobre o futuro de cada um deles é o que nos coloca firmes em frente a tela.

O final, mesmo que não seja tão grandioso quanto a expectativa que cria, traz uma bela mensagem de esperança. É quando também o espectador mais desavisado será surpreendido, afinal, boa parte daquelas situações, se não correspondem à realidade mais fiel, são bem fáceis de se imaginar, principalmente com a informação de que toda aquela estrutura e comunidade, realmente existem, sem necessidade de cenografia. E se o local existe, as histórias continuarão a ser contadas.

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