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Águas Profundas: thriller picante esbarra em uma história sem tempero

A aposta de Águas Profundas (Deep Water), que estreia dia 18 de março, no Prime Video, era, no mínimo, interessante. Ela colocava o casal (e agora ex-casal na vida real) Ana de Armas (Entre Facas e Segredos) e Ben Affleck (Liga da Justiça) em um potencial novo “Proposta Indecente” ou “Atração Fatal“, visto que seu diretor era o mesmo desses projetos, Adrian Lyne, que volta ao jogo depois de 20 anos. Além disso, a história é baseada no romance homônimo de Patricia Highsmith, dando um “caldo” interessante para o filme, que é mais um original da Amazon Studios com Affleck, que este ano já apareceu em Bar, Doce Lar (The Tender Bar). Com tudo isso colocado na receita, ficava fácil criar expectativas para o que estava por vir, no entanto, se você, de alguma forma, as criou, é melhor dar uns passos para trás. Águas Profundas falha em sua proposta e acaba entrando na prateleira de filmes pretensiosos demais. Uma produção que poderia facilmente estar entre as atrações do SuperCine, no final das noites de sábado na TV aberta. 

No filme, Ben Affleck e Ana de Armas interpretam Vic e Melinda Van Allen, um casal rico de Nova Orleans. A relação parece logo de cara conturbada. Vemos nos personagens muito desconforto, desconfiança e um ciúme doentio, mas muito velado. Depois a apresentação dos personagens, fica claro que temos uma relação incrivelmente bagunçada. Vic parece não ligar para os relacionamentos extraconjugais de Melinda, que provoca de todas as formas, e principalmente em público. Aliás, o filme não economiza em festinhas dentro do grupo de amigos do casal. Invariavelmente eles estarão em situações constrangedoras na casa de terceiros, em uma sociedade rica. A vida noturna adulta em Nova Orleans deve ser bem agitada. E para além de situações constrangedoras, estaremos envoltos em mistérios. Afinal, a cada “amigo” apresentado por Melinda, temos um assassinato. O charme aqui seria o jogo entre filme e audiência em saber quem é que é o assassino. Infelizmente, não há dualidade o suficiente para dar crédito a essa dúvida.

Ben Affleck e Ana de Armas em Águas Profundas
Embora competentes em seus papéis, Ben Affleck e Ana de Armas não salvam “Águas Profundas”

Apesar de um roteiro e uma montagem pouco atraente, Ben Affleck e Ana de Armas estão competentes em seus papéis. Principalmente Affleck, que repete um pouco do que vimos em O Contador, com um pai e chefe da casa que em momentos parece afável, mas ao mesmo tempo, um tanto quanto perturbador. Já Ana dá o charme que normalmente traz aos projetos em que participa, mesmo que em muitas vezes seja apenas usada como a sex symbol de sangue latino que traz o tempero mais picante para a relação (seja com o marido ou com outros affairs).

Águas profundas (deep waters)
Prepare-se para uma overdose de Ben Affleck e Ana de Armas em Águas Profundas

Para nadar em Águas Profundas é preciso fôlego. E é exatamente isso que vai faltando ao filme enquanto ele se encaminha para o final. Toda aquela ideia inicial de entregar um novo clássico entre os thrillers sexuais vai se esvaindo em soluções ruins, ou construídas dessa forma. Quando finalmente temos a revelação do que está acontecendo, ela vem sem qualquer surpresa, por mais brutal que queira parecer. Ao mesmo tempo, ela descaracteriza a construção de personagem (não vou dizer de qual para não estragar a surpresa), que até então parecia infalível. E depois da revelação, temos um desfecho que pretendia ser movimentado, mas acaba por nos arrancar risos pela péssima noção de inteligência que alguns dos personagens começam a apresentar. No final das contas, o jogo de gato e rato não funciona, as dualidades não transparecem e tudo fica óbvio, rasteiro, e quase beirando o ridículo. A ideia era realmente boa, mas não foi dessa vez.

Veredito da Vigilia

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