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Adoráveis Mulheres é bonito e agridoce | Crítica

A diretora Greta Gerwig, celebrada por Lady Bird – A hora de voar (2017) deixa de lado o seu cinema “indie” e abraça o mainstream na nova adaptação de “Adoráveis Mulheres”, que estreia no Brasil no dia 9 de janeiro. E com a sua já característica forma de contar histórias humanas, reais (ou quase reais), ela traz um novo ar para a versão do livro de Louisa May Alcott “Little Woman”, escrito em 1868 e que formou um quase universo expandido com outras continuações. E ela mostra que se sai muito bem trabalhando com um grande elenco e uma grande produção. “Adoráveis Mulheres” é um filme gostoso de se assistir, que faz jus ao trabalho e é também uma homenagem da atual geração ao trabalho da escritora.

A história toda se passa em uma época antiga, em um país que vive a Guerra, embora ela não seja o pano de fundo da trama principal. As personagens principais, Jo, Meg, Amy e Beth March são interpretadas por Saoirse Ronan (a própria Lady Bird), Emma Watson (Harry Potter), Florence Pugh (Midsommar) e Eliza Scanlen, respectivamente. Marmee March, a mãe da família, é vivida por Laura Dern (Big Little Lies), e ainda temos Meryl Streep como a Tia March. Ou seja, um elenco para ninguém botar defeito. Apesar de todos os grandes nomes, é novamente Soirse Ronan que conduz a trama nas costas.

Todas as quatro jovens possuem uma determinada forma de viver, e características bem distintas. A união delas com a mãe e a leveza com que levam uma vida, não tão cômoda assim, no interior dos Estados Unidos, é um dos pontos fortes do filme. É fácil simpatizar com essas meninas e suas relações. Uma união quase imbatível. Mas sabemos como são os relacionamentos de irmãs (ou irmãos), não é mesmo? E por isso, a escolha de Greta em conduzir a narrativa com fatos que mesclam passado e futuro torna-se tão interessante. Sabemos que há conflitos e que coisas importantes aconteceram, e basta dar tempo ao tempo para que tudo seja exposto, ao ponto de entendermos as relações afetuosas e todos os conflitos.

Saoirse Ronan, Florence Pugh e Emma Watson em cenas que você vai gostar de ver.

Greta decide em sua versão de “Adoráveis Mulheres” não ser, digamos assim, panfletária. A força das mulheres é mostrada em uma sociedade em que elas pouco, ou quase nada, podem fazer para mudar seus destinos. Elas não poderão planejar uma carreira, viagens ou mesmo grandes aprendizados. Tudo ali, naquela realidade de mundo, é baseado em relações que buscam o conforto, ou mesmo um posicionamento social. É o resultado do capitalismo dominante em uma sociedade dos homens. Utópico é ver personagens tão poderosas com a quase consciência disso. Mesmo a Tia March se mostra empoderada por definir o seu futuro, mas joga sua coerência longe ao conduzir as sobrinhas a pensar que somente um casamento bem arranjado pode ser uma espécie de salvação.

Ao longo das duas horas de filme, vemos também uma bela montagem de época, com lindas locações e várias sub-tramas. Nelas entram também a presença dos homens do filme: Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome, Lady Bird e Um Dia de Chuva em Nova York), como Laurie, Chris Cooper como Mr. Laurence e Bob Odenkirk, como o patriarca, mas que infelizmente não consegue se desprender do papel de Saul Goodman tão facilmente. 

Saoirse Ronan reencontra Timothée Chalamet em um filme de Greta Gerwig.

É com Laurie que as irmãs March possuem um relacionamento mais próximo, oscilando momentos de ternura e alegria, mas também de emoção por envolvimentos que podem não dar certo. Nesse aspecto, Soirse Ronan e Florence Pugh roubam a cena, deixando até mesmo a força de estrelas como Meryl, Laura Dern e Emma Watson para abaixo de segundo plano.

Assim como em Lady Bird, Greta Gerwig deixa a vida contar a história por si mesmo, sem a necessidade de impor heroínas ou vilãs, e deixa a sua lição de liberdade e bonitos sub-textos de vida, sociedade e protagonismo feminino. Até mesmo no momento em que você possa acreditar que ela tenha rumado para o final clichê, ela consegue jogar com eficácia para, se não encantar o cinéfilo, pelo menos entregar mais um filme bom de se assistir.

A Vigília Recomenda!

Veredito da Vigilia

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