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A vingança é visceral em O Homem do Norte

Robert Eggers entrou no hall de novos e excelentes diretores após mostrar que tem assinatura. Ele agora comanda uma nova saga em “O Homem do Norte” (The Northman), que chega ao Brasil no dia 12 de maio (nos Estados Unidos, já roda o calendário desde dia 22 de abril). E no longa, ele constrói uma típica história de vingança. A diferença é que agora ele vai fundo na mitologia nórdica, referenciando boa parte do imaginário mundial que se tem quando os cenários são fiordes gelados, homens brutos e barbudos, mulheres lindas e feiticeiras, e claro, sangue. Muito sangue. A mistura tem tudo para agradar os fãs de vikings espalhados pelo nosso país tropical, mas, mais do que isso, é outro grande filme de Robert Eggers. Se ele não tem o impacto narrativo de seus antecessores, pelo menos ele mantém o primor visual e artístico, entregando aquele filme digno de uma tela grande.

Com uma carreira que contempla o cinema de horror, passando pelos sub-gêneros cósmico em O Farol e sobrenatural em A Bruxa, agora Eggers passeia pelo terror psicológico, místico e gore. Sempre orbitando a história de Amleth (Alexander Sksarsgard, de Big Little Lies). O filho do rei Aurvandil (Ethan Hawke de Cavaleiro da Lua e Um dia para viver) vê sua vida ruir após o golpe do seu tio Fjolnir (Claes Bang, de Drácula). E por aqui, temos uma história bem clássica de vingança. Amleth vê seu tio matar o pai ainda em sua infância. Depois de conseguir fugir, ele passa a vida se preparando para trazer dor e sofrimento para o algoz do seu antigo reino. E mesmo vendo uma história bem batida, é preciso destacar que “o mais do mesmo” sempre pode ser servido, desde que bem feito. E este é o caso de O Homem do Norte. Em todos seus aspectos.

A Família real de O Homem do Norte
Oscar Novak é o jovem Amleth, Ethan Hawke é o Rei Aurvandil e Nicole Kidman a Rainha Gudrún em O Homem do Norte. Cred. Aidan Monaghan / © 2022 Focus Features, LLC

Apesar de cozinhar em fogo baixo na maior parte do tempo (o filme acontece sem pressa, com duas horas e 17 minutos) Robert Eggers entrega pontualmente deslumbres visuais em cada um de seus atos, todos divididos na tela com grafias do velho mundo. Por isso, a todo momento teremos menções à mitologia nórdica, com as presenças dos termos Odin, Hel, Valquírias e Valhalla indo e vindo de acordo com o andar da história. Além dos atores já citados, completam o time Anya Taylor-Joy (Os Novos Mutantes, O Gambito da Rainha), como Olga, Nicole Kidman (O Escândalo, O Peso do Passado), como a mãe de Amleth, a Rainha Gudrún, e Willian Dafoe (Homem-Aranha: Sem volta para Casa) como Heimir, o Tolo. A cantora Björk faz uma ponta como a bruxa/feiticeira Seeress. Todos eles, é preciso destacar, estão ótimos em seus papéis.

Anya Taylor-Joy em O Homem do Norte
Anya Taylor-Joy é a escrava-mística Olga. Cred: Aidan Monaghan / © 2022 Focus Features, LLC

Apesar de vermos as pitadas do cinema e conceitos que catapultaram a carreira de Eggers em sua filmografia, como estranhezas, violência e longos planos, parece sim que O Homem do Norte é um produto feito para ter uma maior aceitação do público… para não ficar restrito aos cinéfilos que já o conhecem ou amantes do terror. Isso não chega a incomodar, mas é nítida uma “mão do estúdio” para que o produto final seja algo mais palatável para o espectador mais desavisado. Não há tantas camadas ou pirações como em O Farol e A Bruxa, mesmo que o final seja propositalmente deixado em aberto (a maioria talvez, nem se preocupe com isso). Mas, como se podia prever, acompanhar a saga e a vingança de Amleth é uma viagem visceral, ambientada perfeitamente por cenários, armas, figurino e fotografia. Tudo no lugar e jogando a favor. Na verdade, um deleite visual. Mas cuidado, se você é sensível a violência, este talvez não seja o melhor filme para que seus olhos alcancem.

Claes Bang é um ótimo vilão em O Homem do Norte
Claes Bang é o ótimo vilão Fjölnir em O Homem do Norte. Cred: Aidan Monaghan / © 2022 Focus Features, LLC

O Homem do Norte provavelmente pode ser considerado um Conan sem Conan. Ou ainda, um Conan que gostaríamos de ter visto, mas que a cultura pop ainda não nos entregou (pelo menos no cinema). Desde já, é um dos grandes épicos de 2022, mas que sua história clássica não o faz ser tão diferente quanto os fãs de Robert Eggers possam imaginar. Ainda assim, imperdível.

Veredito da Vigilia

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