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A Múmia: um atrapalhado início do Dark Universe | Crítica

A Universal deu início ao seu badalado Universo Expandido (já falamos dele aqui) com o novo remake de A Múmia. Mas se a ideia é seguir a fórmula de sucesso iniciada pela Marvel Studios, e seguido pela DC/Warner e Legendary, talvez o objetivo não seja alcançado. Eu explico: A Múmia fracassa na missão de abrir um leque que levasse e conquistasse o público para encarar os clássicos monstros do estúdio em novos blockbusters. Nada menos do que Frankenstein (com Javier Bardem), O Homem Invisível (Johnny Depp) e Dr. Henry Jekyll vivido por Russell Crowe, já presente em A Múmia. Vamos lá, é a Liga da Justiça ou os Vingadores do mundo monstro. Confesso que eu estava abraçando a ideia. Mas aí veio A Múmia.

Meu deus do céu, então o filme é uma bomba? Não, não chega a isso. A Múmia até provavelmente não terá grandes problemas de bilheteria, mas nitidamente o filme tem problemas. E problemas sérios. Começamos com os personagens. Embora eu seja admirador dos trabalhos de Tom Cruise (julguem-me) aqui ele não achou o tom. Nick Morton é pra ser uma espécie de caçador de recompensas, com a índole duvidosa. O clássico anti-herói que as pessoas gostam de ver. Mas não funciona. Os melhores momentos do personagem são posteriormente estragados pelos diálogos e tentativas de piadinhas, ou só a mesma palavra repetida várias vezes. Ao lado dele, o personagem Vail, interpretado por Jake Johnson. O que era pra ser um alívio cômico, vira um incômodo que se arrasta sem explicação até o final do filme. É forçado. E pra piorar, ele vira uma espécie de zumbi que não tem razão nenhuma de existir. Recupere o fôlego, porque tem mais. A “mocinha” Jenny, vivida por Annabelle Wallis, também não diz a que veio. E nem mesmo na maior fórmula clichê de pesquisadora/arqueóloga ela aparece bem. Fecha a tampa do caixão um Russell Crowe com dupla personalidade, o mentor da Prodigium, a empresa secreta que quer “combater monstros com monstros”, que deve costurar todos os demais filmes do Dark Universe. De quebra ele é o Dr. Henry Jekyll, e vemos uma pífia demonstração de seus poderes, que se resumem em ficar descontrolado e meio que azulado ou esverdeado, num efeito especial que daria pra fazer melhor (talvez no futuro). De bom, temos Sofia Boutella, que encarna, literalmente, a mumificada Ahmanet, aqui a vilã do filme. Mas esperamos que o maior acerto desse universo possa regressar no futuro. Ela prende nossa atenção e interpreta com o corpo todo, se destacando muito ao lado dos demais.

Dr. Jekyll será uma espécie de Nick Fury desse universo

Passada a análise dos personagens, a trama é bagunçada. Na ânsia de fazer um blockbuster que agrade a todos, o diretor Alex Kurtzman deixa passar muita coisa. Os erros de continuidade são bem gritantes, e quando nos damos conta disso, logo algum diálogo parece tentar justificar os deslizes. Mas o certo é que ninguém consegue explicar o quase teletransporte de uma cena para outra em determinados momentos. A ação é destaque no primeiro terço do filme, com cenas de tirar o fôlego na queda de um avião e no acidente de uma ambulância. Aqui, ponto para as ideias.

A história é básica e de certa forma apressada. A escolha da narração de alguns personagens para contar as lendas da maldição da múmia e da empresa Prodigium não dão o tom que seria necessário. Falta peso, falta drama, está tudo muito rasteiro. O espectador se vê jogado às possibilidades e compra a história muito mais pelo conhecimento empírico do mundo do cinema do que propriamente do texto e do roteiro criados aqui. E como já falei, tudo isso com atores e alívios cômicos que não se encaixam. O mundo monstro da Universal é tão incrível que eu já fiquei imaginando tudo isso nas mãos de um Guillermo Del Toro ou Peter Jackson. Seria a salvação da lavoura.

Os efeitos especiais e a trilha sonora, como era de se imaginar, são outro ponto forte da apresentação do Dark Universe. Ahmanet (Sofia Boutella) é um ser diferente do que vimos anteriormente nos cinemas e o que mais vai chamar atenção em todo o filme. A cena da duplicação das pupilas já está marcando época. Mas como a gente sabe, os efeitos não salvam os filmes. Você vai sair do cinema se perguntando o porquê da fumaça em Londres se transforma no rosto da personagem. Desnecessário. Também não há lá muitas preocupações com a proporção de golpes e a força descomunal com a qual os personagens apanham. A gente até deixa passar que Tom Cruise já está acenando poderes sobrenaturais em função da maldição do sarcófago (afinal ele sobrevive a queda de um avião). Agora Jenny levar uma bordoada a ponto de quebrar bancos de igreja e sair quase ilesa é um novamente uma ideia desnecessária.

Ahmanet (Sofia Boutella) é o que temos de melhor no filme

O gran finale é tão bagunçado quanto tudo que nos levou até ele. De uma hora para outra a geografia do subterrâneo de Londres tem tudo que um filme de terror precisa. E aqui temos aquela impressão de que os personagens usam mesmo um teletransporte. Vemos longos trilhos de trem, hordas de zumbis (que ficaram muito bem produzidos) comandados pela múmia e de quebra um segundo nível de subsolo com câmaras e reservatórios de água. Tudo isso para justificar mais closes em Tom Cruise. Ele consegue ficar mais de um minuto sem respirar embaixo d’água. E quando ele consegue vencer sua inimiga sobrenatural, temos enfim o acontecimento que justifica sua presença no Dark Universe. Essa parte fica muito legal, embora sua transformação dure poucos segundos.

Mesmo sendo o início de um universo expandido, não é necessário ficar até o final dos créditos da produção. Dessa vez não temos ganchos com outros filmes como em Kong: a Ilha da Caveira ou qualquer filme do Universo Cinematográfico da Marvel. Mas temos um final clichê, com nosso herói dando continuidade à sua fama de aventureiro. Tudo para justificar a cena que lhe valerá o título do filme. Novamente, quase desnecessário. Ainda mais que ele está acompanhado do seu famigerado amigo Vail (não dá pra entender).

Apesar de tudo, ainda boto fé no Dark Universe. Vamos esquecer esse filme se os próximos corrigirem o rumo de tudo, assim como a Mulher-Maravilha fez com a DC. Ah, e fique atento às cenas dentro da Prodigium. Tem alguns easter-eggs interessantes do nosso novo universo expandido.

Veredito da Vigilia

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