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A Mulher Rei e o dia que discordei de Viola Davis

Vendido como um épico dramático e histórico, palavras da própria atriz e protagonista Viola Davis durante sua coletiva no Brasil, chega aos cinemas no dia 22 de setembro “A Mulher Rei”. Apesar de ter minhas discordâncias quanto a esses termos (por favor, não me cancelem!), dá pra afirmar, sem sombras de dúvidas, que estamos diante de mais um filme, que, assim como Pantera Negra (2018), irradia importância e representatividade. Mas, para muito além disso, é um grande filme, com grandes artistas, e com uma excelente história. Esqueça o lado panfletário (por alguns minutos) e foque no que interessa. A Mulher Rei é um dos grandes filmes de ação do ano. E aqui, nesta última frase, estou novamente discordando de Viola Davis, afinal ela refutou este “rótulo”. É muita ousadia da minha parte, não é mesmo? Desculpa por isso viu. Mas calma, tudo tem explicação. Vamos à elas.

A Mulher Rei é realmente uma história incrível sobre a unidade Agojie, que unia guerreiras mulheres e negras que protegiam o reino africano de Daomé, nos anos 1800. Tal qual como as nossas Dora Milaje (os marvetes entendem bem), elas possuem habilidades acima da média e uma força tão impactante quanto. É nesse aspecto que temos um longa inspirado em fatos reais. E aqui a minha primeira discordância com Viola. O filme é inspirado em fatos reais. A produção, com tudo que nos conta, não pode ser considerada uma fonte de consulta histórica (para os tópicos Agojie e Daomé) e considerada um “épico histórico e dramático”. Isso porque o filme é puro suco de entretenimento, com uma saga que nos prende na cadeira e que nos faz torcer do início ao fim pelas protagonistas.

A Mulher Rei Lashana Lynch e Thuso Mbedu
Lashana Lynch e Thuso Mbedu fazem parte de um elenco incrível em “A Mulher Rei”.

Destaco um parágrafo para essas protagonistas: a própria Viola Davis (O Esquadrão Suicida), retrato da perfeição como a General Nanisca, e também a nova e talentosa Thuso Mbedu como Nawi; Sheila Atim (Doutor Estranho no Multiverso da Loucura) como Amenza e a incrível Lashana Lynch (Capitã Marvel e 007) como Izogie. Todas elas, em suas maneiras, criam uma dinâmica essencial para a trama.

Agora voltando na minha discordância, como cinema, o filme muda de figura. É uma fonte incrível de consulta. De como contar uma história, de como representar um povo e de como entregar o que talvez seja o melhor filme de ação de 2022. Arrisco a dizer que, se houvesse um pouco mais de ousadia, A Mulher Rei ganharia uma censura para maiores de 17 anos. Isso porque temos uma violência plástica que se impõem nos combates e treinamentos das Agojie. Eles são crus. Viscerais, e você verá sangue ora aqui e ora ali.

A Mulher Rei, o grupo das Agojie
A Mulher Rei: você não vai querer cruzar com as Agojie

Na trama, temos uma nova geração das recrutas que precisa bater de frente com um grupo inimigo que começa a explorar a boa vontade do reino de Daomé. E nele, temos a participação marcante de John Boyega como o Rei Ghezo e o vilão maior chamado Oba (Jimmy Odukoya). Nessa formação, os caminhos de Nanisca (Viola Davis) e Nawi (Thuso Mbedu) se cruzam, formando o núcleo central de A Mulher Rei. É interessante pensar que elas dividem o protagonismo de forma muito interessante, mas não ofuscam as companheiras Izogie e Amenza. O equilíbrio de todas elas é bem feito e ótimo de se acompanhar.

E é equilibrando a trama, nos conectando com suas personagens fortes e apresentando aspectos técnicos de primeira qualidade (cenários, fotografia, figurinos), que a diretora Gina Prince-Bythewood (The Old Guard, A Vida Secreta das Abelhas) nos conduz durante todo o longa. Ela ainda é amparada no competente fio condutor da história criada pelas roteiristas Dana Stevens e Maria Bello. Apesar da construção de um elo entre duas personagens ser digno de novela das oito, em nada enfraquece a experiência. O fato menos digno de toda a história fica no núcleo português e brasileiro, o qual certamente muita gente poderá torcer o nariz.

A Mulher Rei, Viola Davis e Thuso Mbedu
A Mulher Rei entrega ótimas atuações!

Mas, como citei antes, A Mulher Rei é o tipo de filme que tem todo o potencial para repetir o que Pantera Negra fez. É uma saga que flui bem em todos seus objetivos e pelas suas 2h15 de duração. Entrega poder e representatividade negra; apresenta uma história interessante, com ótimas interpretações e cenas de ação, e nos faz sair do cinema já torcendo por uma sequência. Sequência essa que, como sabemos, só será possível com a venda de ingressos. Se hoje torcemos e queremos cada vez mais vermos filmes plurais, diversos e com protagonismo negro e feminino, suas repetições só virão com o seu consequente sucesso.

A Mulher Rei é uma peça poderosa. Um dos grandes filmes de 2022. E claro, apesar das discordâncias, a Vigília Recomenda!

Veredito da Vigilia

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