Filmes sobre o caso von Richthofen funcionariam melhor se fossem filme só
Um crime que chocou o Brasil e colocou um sobrenome no imaginário de todos os brasileiros. No dia 31 de outubro de 2002, Marísia e Manfred von Richthofen foram encontrados mortos na própria cama, no bairro de luxo que moravam em São Paulo. Pouco tempo depois, a polícia já tinha suspeitos: Suzane, a filha do casal e Daniel Cravinhos, seu namorado. Um terceiro envolvido ainda foi descoberto, Cristian, o irmão de Daniel, havia participado.
Quase duas décadas se passaram, mas esse crime ainda mexe com o país, seja nas datas comemorativas, quando Suzane pode sair da cadeia em datas como o dia dos pais e das mães, por exemplo, ou sobre as notícias de Andreas, o menino que perdeu os pais pelas mãos da irmã. E, agora, a cultura pop ganha um capítulo dessa história.
A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou os Meus Pais, de Maurício Eça, estreiam na sexta-feira, dia 24 de setembro no Amazon Prime Video, depois de terem sua estreia adiada por conta da Pandemia do Coronavírus.
Muito controverso, os filmes sofrem críticas desde que a ideia foi concebida. Apesar de consumir filmes, séries e podcasts sobre crimes, o brasileiro parece não aceitar quando os crimes do próprio país podem virar entretenimento. Além disso, a proposta foi ousada. Não é apenas um filme, mas sim dois.
Um filme conta os acontecimentos segundo o depoimento de Suzane e o outro, a partir da história contada por Daniel ao júri. Porém, claramente a proposta funciona se o expectador assistir os dois juntos. E, ao mesmo tempo, não funciona. Explico.
Como os dois filmes partem do início do relacionamento de Suzane com Daniel e vão até a noite do assassinato, algumas cenas se repetem, o que torna o filme maçante. Outro aspecto que ficou prejudicado na separação dos filmes é que o expectador precisa assistir toda a história de um filme e do outro para poder comparar as versões.
Depois de ver o produto pronto, fica claro que ele funcionaria melhor com uma costura das duas versões, em um filme só. Afinal, quem assistir apenas A Menina que Matou os Pais, sem saber da história, vê um Daniel cooperativo com os pais, puro, que foi manipulado pela menina. Nessa versão, os pais de Suzane eram abusivos e violentos, além de alcóolatras. E quem assistir apenas O Menino que Matou os Meus Pais, pode acreditar na versão da Suzane manipulada, uma menina que conhecia pouco da vida e foi influenciada a entrar em um mundo de drogas e abusos por causa de seu namorado.
Quem assistir, precisa ver os dois. Afinal, olhar apenas um lado da história vai fazer com que a opinião fique unilateral e prejudicar o entendimento de todo o crime.
Como produto para televisão, os filmes podem funcionar. Na verdade, essa mudança pode ser benéfica, já que o estilo não combina com o estilo da produção.

Carla Diaz dá uma vida interessante a Suzane, apesar de algumas vezes, os trejeitos beirarem quase o caricato. Leonardo Bittencourt também cumpre bem seu papel. O destaque de atuação vai para os pais. Manfred e Marísia, de Leonardo Medeiros e Vera Zimmermann e Nadja e Astrogildo Cravinhos, de Débora Duboc e Augusto Madeira, sobem o nível do filme.
Roteirizado por Ilana Casoy e Raphael Montes, de Bom dia, Verônica, A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou os Pais são interessantes para quem quer sanar a curiosidade sobre esse crime que habita o imaginário do país inteiro, mesmo tendo pouco do crime em si e mais do planejamento dele. Mas, não esqueça, assista sempre os dois juntos!
