A história secreta da Marvel Comics
A história da Marvel se mistura com a da evolução dos quadrinhos, passa diretamente pela DC Comics, possíveis plágios (de personagens e ideias) e é tão dramática ao ponto de que quase poderíamos estar vivendo em um mundo sem o Homem-Aranha. Isso tudo e mais um pouco está no livro de Sean Howe: Marvel Comics, a história secreta.
A obra ganhou o prêmio Eisner de 2013 como melhor obra relacionada aos quadrinhos. Apesar de não ser uma história romântica, é um pouco da história contemporânea da arte sequencial, envolvendo bastidores e alguns dos principais criadores da Marvel, mostrando o lado nem tão glorioso ou fantasioso das páginas de celulóide. Howe vasculhou todos os cantos da Marvel e essa pesquisa mostra desde a origem da Casa das Ideias, seus problemas, quase fechamentos até o glorioso momento da parceria com a Disney e o boom do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM).

Entre os detalhes mais marcantes, Howe nos conta as conversas do primeiro chefe de Stan Lee, Martin Goodman e seus métodos para manter a concorrência em dia. Na época, a maior lenda viva dos quadrinhos nem queria escrever histórias em quadrinhos, mas sim “literatura de verdade”. Várias vezes tentou pedir as contas, mas graças a esposa Joan, o universo Marvel surgiu forte (e foi salvo). Após uma de suas desilusões na empresa, Stan Lee ganhou carta verde e foi incunbido de criar uma equipe de super-heróis. Foi aí que “Joanie” lhe mostrou que, já que ele queria ser demitido, porque não insistir uma última vez e, com liberdade criativa, fazer os quadrinhos como ele mesmo imaginava? O pior que podia acontecer era não dar certo e ele ser demitido. Ou seja, o tradicional “o que vier é lucro”. Se deu certou ou não, todos já sabemos. Surgiu o Quarteto Fantástico, o Dr. Destino, o Homem-Aranha, o Hulk, Thor, Homem de Ferro e aí foi ladeira acima. A maioria com seus nomes “aliterativos” (Peter Parker, Reed Richards, Sue Storm, Bruce Banner …). Eram mais fáceis de lembrar, segundo Stan.
Mas era dele também a missão de organizar tudo e demitir muitos (mas muitos mesmo) artistas da editora, principalmente durante as constantes trocas da majoritária da Marvel (primeiro Atlas, Perfect Films, Cadence Industries, New World… e poi aí vai). Problemas nas contas? Chamem o Lee para demitir mais alguém. E você, que já trabalhou numa grande empresa, vai se familiarizar com isso. Afinal, a mão de obra é sempre o dispensável mais fácil. Entre eles, nomes como Jack Kirby. Briga que gerou uma mágoa muito grande entre os maiores criadores dos quadrinhos.

É nesta obra também que você vai descobrir os motivos de tanta circulação e oxigenação nas histórias em quadrinhos. O mercado e o Senhor Dinheiro falam sempre mais alto, e claro, há de se acompanhar as gerações e evoluções do mundo. Vai descobrir também que o Hulk não era para ser verde, que o Quarteto Fantástico era uma resposta para a Liga da Justiça da DC, e que a criação a toque de caixa de personagens resultou em grandes sucessos.
As inimizades criadas foram grandes e as entrevistas são marcantes. A Marvel pediu concordata e rumava ao fundo do poço. As tentativas de jogar suas marcas para a TV e cinema só fracassaram. E algumas das saídas foi vender o direito da maior riqueza da editora: os personagens. Por isso, tivemos tantos anos com a “maldita” divisão entre estúdios (Fox/Sony/Disney). O mar navegado pela Marvel mudou a cada década. Mas saiu de uma grande tempestade para uma área calma e sem ondas. E nessas águas calmas o barco segue com vento cada vez mais a favor. E nós acompanhamos essa sequência evolutiva a cada mês. O legado da Marvel e de Stan Lee será eterno para a cultura pop.
A história secreta da Marvel foi lançado em 2013 e no Brasil é distribuído pela editora Leya, com 560 páginas.