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A Guerra do Amanhã: viagem no tempo e ação sem compromissos

Quando anunciaram A Guerra do Amanhã (The Tomorrow War) a Vigília Nerd estremeceu. A história escrita por Zach Dean e dirigida por Chris McKay (Lego Batman: O Filme) reunia viagem no tempo, apocalipse, futuro distópico e monstros alienígenas. O combo perfeito para se pensar em uma nova mitologia nas nossas vidas nerds, tal qual como Guillermo Del Toro em Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013), dadas as devidas proporções, é claro. O pensamento lógico deve ter passado pela mente de muita gente. De quebra, ainda temos o astro Chris Pratt (de Guardiões da Galáxia), Betty Gilpin (A Caçada) e J. K. Simmons (Homem-Aranha: Longe de Casa), finalizando o pacote da empolgação. E claro, a tal da empolgação sempre estraga tudo.

Feita toda essa introdução, necessária para regular a forma de como eu esperava A Guerra do Amanhã, o filme que chega no Amazon Prime Video no dia 2 de julho até consegue suprir algumas dessas expectativas. A história gira em torno de um grupo de viajantes do tempo que chegam do futuro para recrutar mais pessoas para lutar em uma guerra que ocorrerá em 2051. Sem alternativas, eles buscam soldados para enfrentar feras semi-gigantes que teoricamente teriam vindo do espaço. Nesse escopo, os problemas sociais começam a borbulhar no presente também, já que soldados morrem e pessoas comuns começam a entrar no recrutamento.

Nesse contexto temos Dan Forester (Chris Pratt), um ex-militar que quer encarar uma nova carreira como cientista. O início do filme busca logo de cara impactar o espectador com cenas de ação, mas esse impacto pode ter um efeito contrário. Alguns efeitos especiais não funcionam tão bem, principalmente na cena que mostra a chegada dos viajantes durante uma espécie de final de Copa do Mundo (até envolvendo o Brasil) no dia de Natal. No mínimo curiosa. A cena serve para apresentar Dan, sua filha Muri (Ryan Kiera Armstrong, que estará também em Viúva Negra) e sua esposa Emmy (Betty Gilpin). 

a guerra do amanhã amazon prime
Chris Pratt enfrentará de tudo em A Guerra do Amanhã

Mas a pressa em estabelecer a crise e a urgência dos fatos nem é a pior parte de A Guerra do Amanhã. O início até leva certa regularidade e a aventura flui. Antes de vermos Dan ser levado ao futuro, ainda passamos pelo seu trabalho atual, como um frustrado professor de Biologia do High School. Pode parecer inocente, mas a cena incluirá um personagem que no futuro terá “importância” (note bem as aspas nessa palavra). Já em 2051, vemos ele integrando um batalhão de amadores contra criaturas incríveis. O batalhão é a desculpa para alguns alívios cômicos e perdas, mas as formas de viagem no tempo e as necessidades encontradas para salvar a humanidade são até certo ponto interessantes.

Entramos então na melhor parte do filme. No futuro, Dan encontra novas missões e vai se deparar com um laço familiar na figura de uma Comandante, interpretada por Yvonne Strahovski (O conto da Aia, O Predador). As cenas de ação, no entanto, não parecem muito funcionais. De tempo em tempo vemos um plano de frente com pessoas atirando (no que seriam os monstros) cortadas pelo plano contrário onde vemos os monstros de frente. O abuso desse recurso nos leva a considerar um problema simples que é a descrença de que atores e monstros estejam realmente no mesmo lugar. Mas como falei antes, vou reforçar, nem é a parte ruim. A primeira uma hora e meia de filme nos leva a acreditar que o fim está próximo, e seria uma solução até honrosa, porém, estamos somente na metade de todo o caminho.

Yvone Strahovsky em A Guerra de Amanhã
Yvonne Strahovski (no papel que não podemos revelar) tem importante participação na Guerra

Voltamos então para o presente, onde se desenrolará a outra metade da trama de Dan. É aqui que as coisas começam a se perder. Quem gosta de Viagem no Tempo e todas as teorias derivadas de suas possibilidades, certamente irá torcer o nariz com o que A Guerra do Amanhã vai apresentar. Quem curtiu Dark, vai lembrar certamente do Gato de Schrödinger. Afinal, o futuro acontecerá mesmo se ele foi modificado no passado? É só uma ideia jogada aqui, pois no final de tudo, A Guerra do Amanhã não tenta (nem por um segundo) se amparar em alguma teoria, nem mesmo para brincar com isso. Tudo que ocorre tem um apelo visual (puramente estético) ou para a ação. Não espera. Minto! A teoria e a ciência são abordadas momentos antes da missão final, mas de uma forma tão equivocada que é melhor nem pensar muito.

a guerra do amanhã e sua tropa amadora de guerrilheiros
Chris Pratt, Edwin Hodge e Sam Richardson enfrentando os problemas

No presente, Dan é ignorado ao trazer a informação que salvaria o mundo (calma, não chega a ser um spoiler, acredite). O que ele faz? Pensa apenas na família (o filme apela reiteradamente à causa familiar do mocinho) e reúne o seu elenco do pelotão de amadores e mais uma desavença do passado (mas sem viagem no tempo agora) para nos levar a uma ação desenfreada, sofrível, cheia de furos e que certamente vão arrancar risos. Parece que história e roteiros foram jogados de lado puramente para explorar cenas com piadas ruins e mais ataques mortais. Os enfrentamentos finais do grupo, principalmente Chris Pratt e J. K. Simmons com as criaturas são dignos do Framboesa de Ouro. Lembram da cena na escola mencionada anteriormente (aquela com aspas)? Ela terá seu desfecho de uma forma bem ridícula antes da última missão começar.

E é jogando fora tudo que construiu em sua primeira metade, que A Guerra do Amanhã termina a sua sessão de entretenimento (em casa, afinal é streaming) no melhor estilo “filme duvidoso que as emissoras de TV aberta do Brasil reservam para o final de domingo”. Uma pena, pois muito potencial e dinheiro foram investidos aqui. 

Veredito da Vigilia

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