“A Despedida” é um retrato otimista sobre a morte
Roger Michell traz seu tom e “DNA” para mais um drama familiar e de relacionamentos, como de praxe em seus principais filmes. O diretor consagrado por “Um Lugar Chamado Notting Hill”, reúne em “A Despedida” (Blackbird) um elenco de notáveis para conduzir de forma leve e diferente o dilema de uma mulher de quase 60 anos que caminha para o inevitável fim de sua vida em função de uma doença degenerativa. E assim como no sucesso passado, o faz com competência, amparado em uma história que vai oscilar entre momentos ternos, tensos, e outros reveladores. A produção é um remake do filme dinamarquês “Coração Mudo” (Silent Heart), de 2014, e entrega tudo o que se espera dessa mescla toda, configurando uma ótima sessão de cinema (em casa, é claro).
Tudo fica centrado em Lily (Susan Sarandon) que reúne a família em um final de semana especial em sua casa em frente ao mar. A casa será o cenário de todo o filme, com alguns respiros de caminhadas na beira da praia. Seu marido é o médico Paul (Sam Neil), que, junto ao apelo da esposa, ajudará em uma medida extrema. Como ela sabe que muito em breve sua doença a colocará em uma situação de cama, perdendo lentamente os movimentos, até culminar na perde da respiração e batimentos cardíacos, ela pede ao marido que faça uma espécie de eutanásia assistida. Mas não sem antes realizar alguns últimos pedidos junto às filhas Jennifer (Kate Winslet) e Anna (Mia Wasikowska), que não por acaso, possuem personalidades fortes e muito distintas. Completam a família o genro engomadinho Michael (Rainn Wilson, de The Office), o namorado trans de Anna, Chris (Bex Taylor-Klaus), e o neto Jonathan (Anson Boon), ao lado da melhor amiga de Lily, Liz, interpretada pela experiente Lindsay Duncan.
E é no clima de “ela vai nos deixar, mas e nós, deixaremos ela ir?”, que A Despedida nos coloca em uma situação um tanto polêmica. Todos que chegam na casa do abastado casal sabem o que está por vir, mas nem todos vão lidar com isso da melhor forma. E nem teria como. É aqui que as atuações fazem com a sessão transcorra de um jeito orgânico e fluente. Sucinto, o diretor não precisa de mais de 1h37 para nos sensibilizar com a história dos principais personagens, mostrando suas simpatias e diferenças, principalmente em Anna e Jennifer. Elas vivem em conflito, não concordam com nada, mas um fato surpreendente dentro da casa vai fazer com que as irmãs tomem forças para bater de frente com a decisão da mãe.
Apesar da morte da mãe de família pairar durante todo o filme, A Despedida nos ganha nos momentos familiares, onde pais, filhos e netos mostram as semelhanças que quase todas as famílias possuem. Sempre tem o tio do pavê, a tia certinha, a tia mais descolada. Fica fácil se reconhecer dentro de todos esses aspectos, entender a decisão de cada uma das personagens e se emocionar com a situação complexa que Lily propõe. É difícil, mas é possível entender cada uma das motivações.
Ainda que fique fácil saber todo o desfecho de A Despedida tão logo o filme faça sua apresentação, a narrativa é um drama agradável. Uma reflexão sobre como levamos a vida: somente deixamos ela andar ou realmente tomamos as suas rédeas? Como a própria personagem reforça: “Parei de me preocupar com a morte e me concentrei em viver”. Sem grandes truques ou situações mirabolantes, a história toda é muito honesta em sua proposta e nos traz dilemas se não parecidos com os de Meu Pai, semelhantes no quesito de decisões familiares. E isso basta para que ganhe o selo de “a Vigília Recomenda”.