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A Cura: a volta de Verbinski ao suspense

Gore Verbinski voltou ao suspense e ao quase terror em A Cura (A Cure for Wellness, 2016) depois de um tempo viajando pelos mares com a franquia Piratas do Caribe e a comédia animada Rango. E, quase 15 anos depois de nos ter entregue a versão americana de O Chamado (fique com a primeira, e não com a “continuação”), ele nos entrega um filme esforçado na sua proposta. A Cura não é um filmão, mas também não chega a ser um desastre. Seu maior mérito é deixar o espectador intrigado e o tempo todo querendo saber o que vai acontecer com o bom protagonista Dane DeHann (Poder Sem Limites e um quase Duende Verde em Espetacular Homem-Aranha). A estreia do filme é dia 16 de fevereiro em todo o Brasil.

DeHann é Lockhart. Seu personagem é especialista em várias coisas e vou explicar isso durante o decorrer da crítica. Sua primeira especialidade é ser um ambicioso e egocêntrico engravatado que está crescendo na sua empresa vendendo ações da bolsa. O filme começa mostrando sua ascensão no mundo dos negócios, no tempestuoso cenário da Big Apple. Somos jogados ao epicentro das selvas de pedra, cenário completamente diferente do que teremos pela frente. Pego num golpe rasteiro dentro da empresa, ele é chantageado a buscar um dos principais acionistas em um Spa nos distantes Alpes Suíços. A ideia é sempre a busca pelo poder. E seus “colegas” de empresa jogam pra ele a responsabilidade de uma fusão bilionária. Mas para isso ele precisará convencer esse acionista quase aposentado na Europa, que no final só servirá de bode expiatório para um novo golpe, onde somente Lockhart e seus diretores é quem ganham.

É na mudança para os Alpes onde tudo começa. Entramos num cenário antigo e cheio de mitos. Esse é um mérito para A Cura, que nos traz uma história autoral nova, e não mais um remake e adaptação que superlotam as salas de cinema. E vemos que a produção é esforçada em criar uma nova mitologia no entorno do Spa. Foi lá que muitos anos atrás um Barão quis purificar a humanidade, casando e gerando um filho na própria irmã. O feto foi jogado em um aquífero durante uma inquisição feita ao Barão, afinal, a sociedade da época não poderia perdoar tal feito. A criança sobreviveu, mas o Barão e todo seu castelo foram dizimados pelo fogo. A água portanto, seria o grande segredo pela procura do Spa, que é na verdade um sanatório. A partir da água, ricos e poderosos de todo o mundo procuram o local em busca da cura. A construção dessa mitologia segue até o final do filme.

Com uma frustrada busca do ex-colega Pembroke, o arrogante Lockhard destila mais uma de suas especialidades, a antipatia, ao chegar nos Alpes. Lá ele esbarra em um médico vilão (que parece ser a especialidade do ator Jason Isaacs, de The OA), o doutor Volmer, que passa a lhe atender após um misterioso acidente que lhe custa uma perna quebrada. É lá que ele conhece uma garota bem estranha. Então já temos os ingredientes todos jogados: um estranho sanatório que diz curar as pessoas, uma lenda misteriosa que conta a história do local, uma garota estranha, um médico vilão, um protagonista arrogante. Falta mais alguma coisa? Ah sim, os pacientes estranhos e um servente careca encarregado das limpezas. Está feito o suspense. E ele só vai aumentando.

Sim, o suspense aumenta porque, a cada momento, são jogados mais elementos misteriosos na trama. Não por acaso temos mais de duas horas de filme. A cada mistério, Lockhard vai descobrindo mais enroscos, tentando evitá-los ou fugir deles, mas sempre é pego. E aqui mais uma de suas especialidades, espiar. E a cada vez que é pego, não tem jeito, precisamos saber o que vai acontecer com ele e qual o desfecho de tudo isso. Por isso, o filme tem fluidez e não fica arrastado. Novamente vemos o esmero na produção em tentar expor cada um dos elementos lançados na tela. Verbinski não nos entrega tantos sustos, mas faz bem o mistério. A mescla de mitologia antiga, história sendo desvendada, personagens e tratamentos estranhos envolvendo água e uma espécie de enguia vão aparecendo com mais frequência. Some isso a Dane DeHaan se ferrando cada vez mais, e o resultado é o público se segurando na cadeira.

Jason Isaacs, o doutor vilão que sempre funciona

É na parte final que chegam alguns deslizes. Verbinski tenta um plot-twist (falso). Mas ele acaba não convencendo e rapidamente é desfeito. O que consegue ao mesmo tempo ser um alívio. O vilão se transforma e mostra sua verdadeira face (ou não) e por fim temos a redenção e a tentativa do final épico. Aqui mais uma escorregada, teríamos um último elemento para encerrar a saga? Não, e Verbinski resolve com uma decisão nem tão boa e um último take clichê, que talvez só valha pela versatilidade de interpretações e mais uma das especialidades do protagonista.

Vá ao cinema, mas não espere um novo clássico do suspense. A Cura é entretenimento esforçado que te faz ficar atento até o final.

Veredito da Vigilia

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