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A Cor Púrpura passa mensagem de esperança, mas não supera o clássico

Ir ao cinema assistir uma releitura de um clássico é sempre uma tarefa inglória. Afinal, estamos, querendo ou não, indo fazer uma comparação. Contudo, ao entrar na sala de cinema para assistir A Cor Púrpura, dirigido por Blitz Bazawule, tentei deixar o filme de Spielberg para trás e focar no que viria pela frente.

No longa lançado em 2024, o roteiro condutor segue sendo o livro homônimo de Alice Walker. Na obra, a escritora Alice Walker conta a história a partir de cartas de uma moça que escreve para Deus. Deus, aliás, que se torna uma grande personagem nesse longa. Contudo, falarei mais sobre isso abaixo.

Em A Cor Púrpura, temos uma jornada de descobrimento. Celie (Fantasia Barrino) tem, em sua jornada da heroína, uma história de dor que se torna um belo florescer com o auxílio de Shug Avery (Taraji P. Henson) e Sofia (Danielle Brooks). As duas são mulheres fora do comum, do esperado. Que quebram regras e se tornam o oposto da “recatada e do lar” Celie.

Contudo, Celie é uma personagem muito amável. Ajuda a todos, mesmo que sua vida seja de tanta dor e sofrimento. Em diversos momentos, o elenco relembra que, se existe Deus, Cellie é a representação da sua bondade. Mas por que ela é tão boa no meio de tanta maldade?

O início do filme causa um certo incômodo. Se acredita em um Deus punitivista. Em um Deus malvado. Um Deus que manda pragas para as mulheres que não cumprem toda a cartilha da mulher certinha. E será que é esse Deus que alguém deveria acreditar? Um Deus que, invés de incentivar a felicidade, manda provações em cima de provações. Ou será que isso não é apenas a vida? Essa parte do roteiro que lembra muito o Deus do velho testamento realmente me incomodou muito. Afinal, o quanto se usa o nome de Deus para “confortar” as camadas mais pobres e elas apenas aceitarem que é isso que merecem?

Todavia, o filme consegue sair disso e ir para uma jornada, como falei anteriormente, de descobrimento. Do papel da mulher na sociedade. Celie cresce, aprende, aconselha. E todas as mulheres perto dela conseguem fazer o mesmo. É uma grande comunidade feminina que tenta fazer o possível e o impossível para se ajudar.

É importante ressaltar dois pontos cruciais nesse longa. Em primeiro lugar, o seu visual. A Cor Púrpura precisa ser assistido no cinema. É lindo. Fotografia, figurinos e toda a direção de arte foram feitas com primor. As cores que vão se tornando mais vibrantes de acordo com as descobertas de Cellie tornam o filme mais quente e caloroso. Saimos de um tom pastel e morno para um vermelho quente e vibrante em função dessas mulheres. Outro ponto para ser observado é que este é um musical na concepção correta da palavra. Tudo vira música. Todo momento é momento para cantar, dançar e tudo mais. Então, você está avisado.

A nova versão de A Cor Púrpura tem muitos acertos. Um elenco de peso, com a participação importante de Halle Bailey, o debate do papel da mulher na sociedade e até mesmo a forma em que Deus aparece na vida das pessoas. Mas não supera seu clássico.

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