Tinta Bruta: as cores da representatividade
Tinta Bruta, de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, foi o filme vencedor do Festival Internacional de Cinema do Rio, onde foi premiado como Melhor Filme, Melhor Roteiro para Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, Melhor Ator para Shico Mengat e Melhor Ator Coadjuvante para Bruno Fernandes. O filme ainda teve estreia mundial no Festival de Berlim, onde levou o Teddy Awards. Aqui no Brasil ele estreou no início de dezembro.
Na trama premiada, Pedro é um jovem tímido que responde a um processo e após a despedida da irmã, sua única amiga (até então), tem que lidar com as angústias e descobertas da própria sexualidade. Com essas peças postas no tabuleiro, Tinta Bruta nos apresenta uma bela mistura de arte e política.
Com a mudança da irmã para Salvador, Pedro se vê sozinho, em um apartamento, no centro de Porto Alegre. Para se sustentar, ele começa a fazer performances com tintas na internet, que são apreciadas por outros homens. Seu pseudônimo é “ Garoto Neon”. Ele logo conquista muitos seguidores, porém quando desliga o computador, vive uma solidão extrema, muitas vezes interrompida pela vizinha cobrando o aluguel ou alguém procurando sua irmã.
Porém, ao descobrir que Leo (Bruno Fernandes) o imita, ele vive novas experiências. Conhece o afeto, em uma relação com Leo, e volta a sair pela cidade, mesmo enfrentando, por muitas vezes, a brutalidade do preconceito e da violência.
Além dos atores, Porto Alegre é uma personagem ativa da narrativa. Por vezes, violenta e solitária (várias cenas mostram voyeres nas janelas escuras). Em outras, bonita e propícia a belos encontros.
Por tratar-se de um filme LGBT, é importante lembrarmos da característica das tintas usadas nas performances de Pedro. O neon brilha no escuro, chamando atenção para o invisível e o despercebido.
Tinta Bruta é pura representatividade. O que vale, vale muito.