“9”: futebol, sonho e projeção
Muitas vezes, pais projetam ou esperam coisas que os filhos não querem ou não podem entregar. É isso que acontece em “9”, filme que é uma parceria entre Uruguai e Argentina exibido na Mostra Competitiva de Longas Estrangeiros no Festival de Cinema de Gramado.
Dirigido por Martín Barrenechea e Nicolás Branca, o filme conta a história de Christian (Enzo Vogrincic), um jovem jogador da Seleção Uruguaia que agride outro jogador da Colômbia. Ele é expulso e ganha uma punição.
E é durante esse tempo da punição que Christian começa a questionar o que realmente quer para a vida dele. Será que ele gosta mesmo de futebol ou essa é uma projeção de seu pai, Óscar (Rafael Spregelburd)? Desde o início, vemos que para Óscar, seu filho é um número e um retorno e investimento financeiro. Ele precisa jogar futebol para que os dois possam continuar levando a vida que levam, no condomínio de alto padrão.
Tudo muda quando Christian conhece Belén (Sofía Lara), uma menina que joga tênis em seu condomínio. Belén mostra para o jogador um mundo totalmente novo e começa a provocar questionamentos em relação às escolhas do garoto.
![Belén (Sofía Lara) provoca Christian (Enzo Vogrincic) para viver uma vida comum](https://vigilianerd.com.br/wp-content/uploads/2022/08/20220820-9-vigilianerd.jpg)
Belén, na verdade, faz um papel muito maior que de amiga ou namorada para Christian. Ela mostra que ele pode ter uma vida normal, fazendo coisas de jovem normalmente e se desprendendo das garras do seu pai.
Enzo e Rafael vão muito bem em seus papéis. O iniciante Enzo surpreende fazendo um Christian palpável e crível. Temos a certeza que já vimos esses dilemas antes. A química entre os dois, como dupla de pai e filho funciona bem e faz sentido no todo. A construção dos seus personagens é muito interessante.
Com uma boa fotografia e uma trilha sonora que abraça o filme, “9” leva ao espectador bons momentos em suas camadas. O filme se resolve se você estiver prestando atenção em tudo o que está sendo apresentado em conjunto. Afinal, a junção de imagens e diálogos faz uma narrativa muito interessante.
No final das contas, “9” é sobre um jovem descobrindo quem ele pode ser depois de viver tanto tempo nas garras de seu pai. A projeção paterna, a necessidade do filho ser o provedor da família, o futebol, as festas e tudo que podemos lembrar dos grandes craques da América Latina está ali. A tabelinha entre Uruguai e Argentina resulta em um filme importante, bem feito e que conta com boas atuações.
Foto: Edison Vara/Agência Pressphoto