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7 Prisioneiros é o recorte de um Brasil que insiste em persistir

Um retrato escondido, mas ainda real, é mostrado dentro de um recorte ficcional em “7 Prisioneiros”, novo longa brasileiro com o selo Original Netflix. O filme dirigido por Alexandre Morato (Sócrates) está sendo exibido em alguns cinemas selecionados pelo Brasil, mas chega ao catálogo do streaming no dia 11 de novembro, e é uma das boas estreias do canal neste ano. Na produção temos o amparo dos cineastas indicados ao Oscar Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e Ramin Bahrani (O Tigre Branco).

Com uma história sucinta, mas cruel, “7 Prisioneiros” traz Rodrigo Santoro (Turma da Mônica: Laços) e Christian Malheiros (Sintonia) como os grandes destaques do filme. Santoro mostrando sua faceta vilanesca, e Malheiros, apresenta sua versatilidade. O primeiro é Luca, o gerente de um ferro-velho de São Paulo que recebe um grupo de jovens do interior para tocar o trabalho insalubre de desmanchar cabos, peças de metal e carregar caminhões. Na ideia de melhorar a vida da família no interior, o grupo conta com Mateus (Malheiros), o único com um certo grau de escolaridade. Os amigos chegam à maior cidade do Brasil com grandes sonhos, mas se deparam com um mundo perigoso e acabam praticamente escravizados no novo trabalho.

Alexandre Morato conduz o filme de forma direta, sem floreios, mas cheio de nuances e situações que vão justificar o cárcere e o terror psicológico a qual o novo grupo é lançado na inocência de melhorar de vida. Da mesma forma, ele consegue explicar perfeitamente os motivos que levarão o grupo a sucumbir à violência dos novos patrões, seja ela física ou mental. Um verdadeiro mato sem cachorro dentro da selva de pedras que a maioria das Metrópoles proporcionam.

7 prisioneiros christian malheiros
7 PRISIONEIROS: Christian Malheiros é Mateus. Cr. Aline Arruda/Netfflix 2021

Mesmo após alguns planos de fuga, todas as situações do grupo são amplamente frustradas. Nesse ponto, além da maldade dos patrões, vemos um pouco de como a polícia brasileira é altamente corruptível, além da fragilidade dos órgãos que deveriam fiscalizar as mínimas condições de trabalho. No Brasil, a impunidade dá espaço para a maldade nos mais diversos cantos, e nas mais diversas ocasiões. E tudo isso transforma a vida de Mateus e seus amigos em um verdadeiro inferno. E neste inferno, o expectador compra todas as dores dos jovens encarcerados.

Mas a esperteza de Mateus, em grande parte dada à sua escolaridade, aos poucos acaba destacando seu trabalho. E as coisas mudam de lado quando ele vê a chance de, novamente, tentar fugir e ajudar os colegas. Mas, assim como em um sistema político e prisional brasileiro, ele acaba se vendo em uma situação oposta, colocando em xeque até mesmo a lealdade para com os colegas. É nesse momento que “7 Prisioneiros” impacta ainda mais. Para além da raiva que passamos a sentir junto dos trabalhadores, toda ela canalizada no personagem de Rodrigo Santoro, o sistema parece corromper até mesmo aquele que se mostrava um dos mais dignos.

7 PRISIONEIROS: além do trabalho escravo, o filme traz outras realidades duras de se encarar.

A metáfora e as interpretações podem ir bem longe em “7 Prisioneiros”, mesmo que a ideia seja somente mostrar um recorte. Isso porque o trabalho análogo à escravidão ainda traz a reboque uma quantidade enorme de outros crimes e falhas terríveis da sociedade contemporânea, como tráfico de pessoas, violência, e a destruição de sonhos de imigrantes (e migrantes) que apenas procuram ganhar seu sustento. Um recorte cruel e que parece não ter fim no Brasil.

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