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120 Batimentos Por Minuto | Crítica

Sucesso de crítica, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, sucesso de bilheteria e o escolhido para representar a França na disputa de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2018. São muitos os méritos e conquistas do longa 120 Batimentos por Minuto, que estreia no Brasil no dia 4 de janeiro. Certamente todos esses méritos são também motivos para acompanhar a obra de Robin Campillo nos cinemas. De uma forma verdadeira, crua e cercada de liberdades artísticas, o diretor conta a história do grupo ativista Act Up na França do início dos anos 90, durante o governo de François Mittérrand. O foco é ter uma resposta mais efetiva do Estado e mostrar para uma sociedade preconceituosa e sem conhecimento as agruras vividas pelas vidas afetadas pela AIDS e o vírus HIV.

Paralela a toda a luta principal, vemos vários integrantes do grupo ativista, que ficou estigmatizado por abrigar pessoas soropositivas, mesmo que essa não fosse a realidade de todos os seus membros. Com uma boa didática de exposição e democrático, somos jogados a pequenas histórias de cada um dos integrantes do Act Up Paris, até chegarmos a relação do recém chegado Nathan (Arnaud Valois) com Sean (Nahuel Pérez Biscayart). Aos poucos, o que era uma história de ativismo, vai também se tornando uma história de amor e dedicação, com cruezas dignas do cinema francês, seja nos diálogos ou mesmo na exposição das relações sexuais. Sempre mesclando a luta por novas políticas públicas de saúde em relação aos grupos de risco com a busca da educação da sociedade civil. Era uma época em que realmente o preconceito e a falta de conhecimento criavam barreiras quase intransponíveis. Fato que nos leva a pensar na realidade brasileira, que já foi exemplo no tratamento e combate a AIDS, mas que regride com a onda conservadora.

Ativismo pela quebra de preconceitos no premiado 120 Batimentos Por Minuto

Dentro de toda a contextualização política, de época e até mesmo das descobertas da ciência e tratamentos, o grupo faz tudo o que pode para ser visto e ouvido. O que muitas vezes leva a medidas extremas, como nas cenas que abrem o filme. Ainda nesse espírito, o diretor se dá ao luxo de experimentar e alongar cenas e situações, espremendo ao máximo as interpretações e relações entre os personagens, todos perfeitamente caracterizados. Junto dessas experimentações estão longas cenas de transição mesclando festas, música eletrônica e células e organismos humanos, simulando o que seria talvez a luta dos doentes contra uma das maiores epidemias já vistas no mundo.

Ao longo da luta, o grupo Act Up acaba sofrendo várias perdas, todas dramatizadas e pontuadas. E todas com seus motivos necessários para ditar o ritmo do filme, embora Campillo faça questão de esticar o filme ao máximo. A luta contra a AIDS já foi uma pauta muito mais chamativa, e aos poucos foi ficando para trás. Desde 1980, mais de 35 milhões de pessoas já morreram em função da doença. Hoje em dia, este é quase o número total de soropositivos: 36 milhões em todo o mundo. E embora uma ficção, a obra é também um recorte histórico de um passado recente. Uma memória que precisava ser relembrada.

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