CríticaDestaqueFilmes

“Pequenas Coisas como Estas” mistura história com um show de Cillian Murphy

Cinema é uma obra de arte. E, a partir da sua linguagem, muitas vezes, a ausência de diálogo fala muito mais do que qualquer filme verborrágico. Em “Pequenas Coisas como Estas”, de Tim Mielants (Peaky Blinders), vemos o silêncio sendo usado de forma acertada e o não dito é tão claro, ou até mais, que o dito.

O oscarizado Cillian Murphy dá vida ao carvoeiro Bill Furlong. Um homem generoso, empenhado no cuidado das filhas e dedicado ao casamento com sua esposa. Ao longo do filme, vamos percebendo que Bill tem um passado diferente de muitas daquelas pessoas da região e isso mexe com ele.

Enquanto procura dar espaço e oferecer amor, cuidado e muito carinho para as filhas, ele vê uma situação que o intriga. Ao entregar carvão no convento, na Irlanda, ele se depara com uma triste realidade. Uma menina, constantemente punida, chama atenção do carvoeiro. Na tentativa de salvá-la, ele descobre uma realidade sombria.

Com o roteiro baseado no romance de Claire Keegan, “Pequenas Coisas como Estas” tem como trama central as chamadas “Lavanderias de Madalena”. De 1922 a 1996, milhares de mulheres foram mantidas prisioneiras nesses locais. As casas, que tinham fachadas de lavanderias comerciais, administradas e financiadas pela Igreja Católica e pelo Estado, foram criadas como estratégias de punição e correções para mulheres consideradas desviadas.

Em geral, grávidas, as mulheres recolhidas nesses locais eram separadas de seus filhos e forçadas a trabalhar nas lavanderias, enquanto sofriam abusos físicos e mentais nas mãos das freiras. Ao todo, estima-se que cerca de 30 mil mulheres tenham sido isoladas da sociedade e muitas crianças nascidas nesses locais foram traficadas principalmente para os Estados Unidos.

Com imagens de flashback, entendemos a ligação de Bill com as mulheres que foram mães solo e como ele ver a moça em condição degradante o arrebatou.

Como falei no início do texto, esse é um filme de observação. E, apesar de uma temática tão feminina no entorno, ele é completamente guiado pelos olhos e pelas expressões de Cillian Murphy, que mais uma vez brilha nas telas.

Imergimos na época dos fatos e nos envolvemos na história a partir da fotografia, figurino e nas excelentes interepretações. O filme se desenrola bem, sem excessos no roteiro e prende a atenção do início ao fim.

“Pequenas Coisas como Estas” tem um interessante roteiro assinado por Enda Walsh em que todas as mulheres da sua volta lembram como é perigoso, principalmente para suas filhas, caso ele tente se voltar contra a igreja. O filme envolve e traz ao debate a influência das religiões na sociedade e como, com muito dinheiro, é possível ter tanto poder e fazer as mais diversas atrocidades.

Veredito da Vigilia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *