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Golpe de Sorte em Paris, de Woody Allen, é uma crônica de amor

Woody Allen chegou ao seu filme de número cinquenta. Pela primeira vez, o cineasta grava um longa todo falado em francês. Golpe de Sorte em Paris, que pode ser o último de Allen, tem a capital francesa como centro de um debate interessante sobre amor, casamento, encontros e desencontros.

Fanny (Lou de Laâge) tem uma vida que pode parecer perfeita, até mesmo aos olhos da sua família. Casada com Jean (Melvil Poupaud), a jovem ascendeu socialmente e está vivendo a vida da alta sociedade parisiense. Trabalha em uma galeria, mora em um bom apartamento, é casada com um homem que a enche de presentes. Mas ainda parece faltar algo. A vida pintada como perfeita parece não emocionar Fanny. Falta algo. Paixão? Tesão? Interesse? É quando entra um encontro inesperado.

Em um dia, indo trabalhar, Fanny se depara com Alain (Niels Schneider), um antigo colega de escola. Entusiasmado, o escritor conta que havia sido apaixonado por ela durante muito tempo. Essa informação, que pode parecer até mesmo boba, mexe, profundamente com Fanny. A partir disso, a personagem parece reencontrar uma versão de si mesma que estava adormecida.

Entre encontros, mentiras e meias verdades, o filme vai se desenrolando e nos envolvendo naquela trama que torcemos para um final feliz. Cada vez mais, Jean vai se revelando e começamos a ver que aquele “amor incondicional” tinha uma condição: ter Fanny apenas para si.

A partir daí, a trama, que estava linearmente desenhada, começa a ir para caminhos obscuros que tem seu ápice em seus dois últimos atos. Com reviravoltas, conseguimos imaginar até onde, realmente, a passionalidade pode ir.

Prepare-se para ter ojeriza de Melvil Poupaud em Golpe de Sorte em Paris
Prepare-se para ter ojeriza de Melvil Poupaud

O trio principal está bem. Tanto Lou de Laâge, quanto Niels Schneider nos envolvem em seus papéis, mas Melvil Poupaud que deve ganhar destaque. O ator consegue gerar uma ojeriza no público. Torcemos para que o pior aconteça e que Fanny saia de suas garras.

Como sempre em seus filmes, a cidade é personagem. E Paris se torna uma personagem deslumbrante. Afinal, ela tem muitas nuances. É palco de luxuosos jantares, mas de boêmios encontros. Se torna o local em que um sanduíche no parque pode ser muito mais atraente que um restaurante premiado. Paris promove encontros, desencontros e nos deixa a indagação: qual será o grande golpe de sorte?

O ritmo do filme pode incomodar quem gosta de tramas com acontecimentos grandiosos o tempo inteiro. Afinal, em Golpe de Sorte em Paris, vemos a vida acontecendo. E, nem sempre – ou quase nunca, nossa rotina é tão emocionante quanto um roteiro de ação. Contudo, são nos passos lentos da história que encontramos a reflexão. Essa é uma película que exige vontade do espectador de abraçar as diferentes nuances do dia a dia ordinário e banal. Porém, prepare-se para um suspense angustiante no terceiro terço do filme.

Em Golpe de Sorte em Paris, podemos nos questionar sobre diversos elementos do relacionamento humano. Inclusive, paramos para pensar em quem, à nossa volta, é verdadeiramente feliz. Quem está vivendo a vida que está demonstrando? Quantos casamentos aparentemente felizes estão ruindo? Qual é o grande objetivo da vida se não for ser feliz? Woody Allen nos faz pensar em tudo isso. Ao assistir o longa de 95 minutos, saímos pensando no que, em nossas vidas, de fato nos faz sentir vivos. O que, exatamente, nos faz ter um propósito.

Veredito da Vigilia

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