CríticaDestaqueFilmes

Emília Perez é retrógrado e sem propósito

Emília Perez foi uma das coisas mais desastrosas que vi no cinema em quase dez anos de cobertura na área. Não vou deixar o mistério para depois, afinal, minha opinião já está na internet há tempos. Aqui, vou me aprofundar na problemática desse filme vergonhoso.

Talvez preciso fazer um parêntese antes de começar: sou uma pessoa extremamente competitiva. Muito. Contudo, apesar de ter gostado muito de Ainda Estou Aqui, fui com o coração aberto assistir ao longa do francês Jacques Audiard. Mas nem as melhores intenções e as 13 indicações ao Oscar salvariam Emília Pérez.

A história inicia com Rita (Zoe Saldaña), uma advogada que está frustrada trabalhando em um escritório basicamente focado em lavagem de dinheiro. À primeira vista, trabalhar para o crime parece ser algo que a incomoda. Mas, rapidamente, ela toma uma decisão baseada em dinheiro.

Em determinado momento, Rita recebe uma ligação misteriosa para ir até uma banca de jornal à noite. Lá, ela é sequestrada e recebe uma oferta irrecusável: ajudar o chefe do cartel a sair dessa vida e se tornar a mulher que sempre sonhou em ser.

Sem pestanejar, a advogada aceita a oferta e começa uma busca por clínicas aptas a fazer a cirurgia. Dessa forma, ela viaja o mundo e canta músicas sobre vaginoplastia enquanto decide qual será o destino do seu cliente. Sim. Você não entendeu errado. Emília Perez é um musical criminal que mistura palavras como pênis, vagina, corrupção e morte combinadas com dancinhas lamentáveis. Os números musicais fazem com que, pouco a pouco, vamos afundando de vergonha alheia na cadeira do cinema. Contudo, existe uma parte pior que os clipes. Quando as frases não são nem faladas, nem cantadas, são proferidas estilo um rap. Como o famigerado Rap do Zé Felipe que o Brasil teve o desprazer de escutar em 2023, quando o cantor não gostou do deboche que o jornalista Evaristo Costa fez a sua família. É terrível.

Até aqui, talvez o incômodo pareça apenas com os musicais. Mas não é. Emília Pérez é um aglomerado de personagens rasos, sem conexão com o público, sem histórias e sem motivação. Rita tem convicções voláteis, Manitas desaparece pensar duas vezes e Emília Pérez volta e assume o papel de salvadora de mães com filhos perdidos, sem parecer que está se sentindo culpada por todas as mortes que seu passado carrega.

Karla Sofía Gáscon é Emília Perez

Selena Gomez é um caso à parte. Sua personagem é lamentável, mas como aparece pouco, podemos relevar. O sotaque, o exagero e a atuação pífia parece jogarem fora todo o exercício que a atriz vem fazendo para ser reconhecida na indústria audiovisual.

Emília Pérez é equivocado e de mau gosto do início ao fim. O aspecto sujo e degradado da Cidade do México representa, exatamente, o que um diretor francês que acha que espanhol é “língua de pobre” pensa sobre países de terceiro mundo. Gravado basicamente todo em estúdio, o México e os mexicanos não tem direito ao reboco e a pintura na parede, não podem frequentar um restaurante e, até mesmo quem é rico, vive em locais cafonas e sem manutenção. Essa é a visão clara de Jacques Audiard, retratada em cada segundo do seu longa.

Se separarmos toda a polêmica em torno de Karla Sofía Gascón, Emília Pérez continua merecendo zero estrelas. É um filme caricato, cafona, equivocado e fora de tom. Nada se justifica, nada se conecta e é tudo muito pífio. Talvez a Academia quis premiar a ousadia do musical criminal. Só que uma ideia inovadora não funciona se todos os outros elementos envolvidos sejam tão retrógrados e preconceituosos, a começar pelo diretor.

Caso você ainda tenha vontade de assistir ao filme, espere um pouco. Em breve ele chega ao catálogo da Netflix.

Veredito da Vigilia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *