CríticaDestaque

Coringa: Delírio a Dois não sabe a história que quer contar

Quando Coringa ganhou seu primeiro filme solo, uma nova experiência foi oferecida aos fãs da DC e aos espectadores num geral. Joaquin Phoenix foi muito mais que Coringa, ele nos apresentou Arthur Fleck, um homem que tinha em seu histórico muitos problemas que poderiam ser os motivadores para suas ações. Quando Coringa: Delírio a Dois foi anunciado, ficamos sem saber o que esperar, até mesmo porque o primeiro parecia se encerrar. Contudo, ao terminar a sessão de imprensa deste novo filme, apesar de não ter expectativas, tudo que vi está muito aquém do que o primeiro filme apresentou.

Coringa: Delírio a Dois é categorizado como “suspense musical” e pode até mesmo estar no gênero terror: o terror de ficar durante duas horas e meia aguardando o filme se encerrar. Sem história e com musicais inseridos em momentos inadequados, o longa não se justifica.

“Folie à Deux” é o subtítulo original do filme. Essa é uma condição psiquiátrica conhecida no Brasil como “delírio a dois” ou até mesmo “loucura a dois”. O transtorno delirante é uma síndrome em que os delírios psicóticos de uma pessoa doente se transferem para uma pessoa aparentemente saudável. Com essa definição médica, poderíamos imaginar que o roteiro iria contar aventuras de Coringa e Harleen Quinzel (Lady Gaga). Mas não é isso que acontece.

Coringa: Delírio a Dois não é nada mais, nada menos, que um filme de tribunal em que as pessoas cantam – muitas vezes, músicas gospel. Talvez fazer um filme de tribunal musical poderia ser uma ideia promissora, mas, para isso, deveria ser bem executado, o que não é o caso aqui.

Dirigido por Todd Phillips, este novo filme do Coringa tem tantos problemas no roteiro que entra em contradição com o primeiro longa. O delírio, que deveria ser a dois, é diminuído para uma paixão fugaz de duas pessoas que estão em uma prisão. Lady Gaga está apagada. Seu papel é tão de coadjuvante que não causa emoção alguma ao espectador. Ela não brilha, não se sobressai. Entrega uma personagem completamente morna.

Os números musicais aparecem de forma inadequada em Coringa: Delírio a Dois
Os números musicais aparecem de forma inadequada em Coringa: Delírio a Dois

Já Joaquin Phoenix mais uma vez convence como Coringa e como Arthur Fleck. Entregue ao papel, ele emociona e faz com a trajetória de abusos e tristezas de uma vida inteira de Arthur nos toque. Muitas vezes, o longa se torna extremamente triste. E, quando o Coringa está em cena, vemos o rosto de Phoenix mudar. Se torna alegre e tudo faz parte de um grande espetáculo.

E aí que temos mais e mais contradições nesse filme. Apesar de ser considerável inimputável por toda sua trajetória nos quadrinhos e no cinema, Arthur Fleck não é diagnosticado com transtorno de personalidade. Isso gera uma grande estranheza. Explico. No imaginário de qualquer conhecedor do personagem, existem duas figuras, Arthur Fleck e Coringa – e isso se dá pelo transtorno de personalidade. Contudo, como esse diagnóstico não aparece no momento do julgamento?

Talvez nesse momento teríamos uma chave de virada. Uma internação no hospital psiquiátrico e a Dra. Harleen Quinzel vivendo seu delírio a dois ao lado de Coringa. Mas, como não sou roteirista dessa história, posso apenas avaliar o que vi. E o que vi foi um filme morno, lento e sem coerência.

Inclusive, podemos dizer que o filme muitas vezes se torna inadequado. As cenas musicais tem inserções em tempos terríveis, que quebram a narrativa e tudo fica sem sentido. Parece que existem dois filmes em paralelo que não se conversam.

Coringa: Delírio a Dois não faz jus ao primeiro filme, ao personagem e nem até mesmo a Joaquin Phoenix. É um filme que tinha tudo para entrar na lista de melhores do ano, mas deve figurar sua colocação nos piores. E, ao final de mais de duas horas de um longa sofrível, não fazemos ideia da história que a equipe gostaria de nos contar.

Veredito da Vigilia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *