Punho de Ferro | Crítica da 2ª temporada
O Imortal Punho de Ferro voltou para sua segunda temporada na Netflix. Assim como seu antecessor Luke Cage, a expectativa era por entregar um arco melhorado. Com Luke Cage foi assim, e a expectativa foi alcançada. Infelizmente, Punho de Ferro não repete seu parceiro de heróis de aluguel. Pelo menos não em seu contexto total. Isso porque uma das máximas do mundo audiovisual (principalmente em cinema e séries de TV) é de que toda narrativa precisa entregar no final. Isso é, deslumbrar, encerrar com chave de ouro, e de alguma forma surpreender. A tentativa nesta nova temporada ocorreu, mas não foi bem sucedida. Mas isso não quer dizer que ela é desprezível, pelo contrário, a volta do protetor de K’un-Lun veio com grandes momentos. E muito girlpower.
Com algum tempo de sustentação do personagem Danny Rand/Punho de Ferro (Finn Jones) – cito a primeira temporada, Defensores e também sua participação na segunda temporada de Luke Cage – a ideia que se tinha era de ver um herói um pouco mais calejado, o contrário do padauã (se me dão a devida licença poética) visto em sua saga de estreia. Inclusive sua participação em Luke Cage trouxe um tom mais cômico e acertado, uma leveza que quase não aparece aqui. Uma pena, na verdade. O amadurecimento parece muito pouco perante o visto nas suas participações com os demais heróis urbanos de Nova York. Mais do que isso, o amadurecimento parece ser usado quando conveniente para o desenrolar da trama.
Como novidades temos a presença de Alice Eve como a vilã Mary Tyfoid. Criada por Ann Nocenti e John Romita Jr. em 1988, nos quadrinhos do Demolidor, seu nome completo é Mary Alice Walker. Na trama, vemos bem o uso de suas diversas personalidades (ela sofre de transtorno dissociativo de identidade), e ela acaba se envolvendo diretamente em dois lados da história. E a história, na verdade, tem vários lados, envolvendo a guerra de facções em Chinatown, a luta de Davos (Sacha Dhawan) pela busca do poder de Danny Rand, e muitas tretas vingativas de Joy Meachum (Jessica Stroup). Completam a trama Ward Meachum (Tom Pelphrey), Misty Knight (Simone Missick), a mais do que importante Colleen Wing (Jessica Henwick) e uma gangue de garotos que surge despretensiosa, mas fica cada vez mais relevante ao longo dos 10 capítulos.
Erros e acertos – (o texto abaixo contém spoilers)
A segunda temporada de Punho de Ferro oscila entre erros e acertos. Entre os acertos estão a diminuição de episódios – pela primeira vez numa série da Marvel e da Netflix não temos aquela clássica barriga que desvia da trama principal – e também a entrega de boa parte da trama às personagens mais cativantes desse universo Marvel das séries: Colleen Wing e Misty Knight. E novamente temos a deixa para que as filhas do Dragão ganhem sua própria série. Ao mesmo tempo que suas participações são cada vez mais marcantes, vemos que o Punho de Ferro talvez funcione melhor com Luke Cage ao seu lado, e seria mais interessante termos uma série com os dois juntos de forma permanente do que as produções individuais. Elas roubam tanto a cena que o mestre das artes marciais fica para trás.
E um acerto marcante é levar Colleen ao nível de Punho de Ferro. Em todos os sentidos. Ao longo da temporada vemos que Davos consegue retirar o dom de Danny. E na virada de mesa do herói, Danny retira o punho de ferro de Davos e o repassa para Colleen, mostrando que realmente ela não só ganhou mais espaço, como também tem tudo para decolar sua série com Misty. E não é só isso. Nas lutas finais, é Colleen quem duela com o principal vilão, deixando Danny completamente em segundo plano. Ao mesmo tempo que é essa é uma atitude ousada, afinal ainda estamos falando da série do Punho de Ferro, é recorrente o fato de deixar o herói sem seus dons para que ele se supere. Aliás, um mestre de artes marciais que enfrentou um dragão deveria se sair melhor em 90% dos combates no subúrbio da Big Apple. Fora o fato de que ele deveria ensinar os outros, e não ser ensinado.
Entre os deslizes estão recursos que foram também muito usados na segunda temporada de Jessica Jones, como por exemplo, levar a história até determinado ponto, encerrando o capítulo com um gancho. O que se espera é continuar o próximo episódio a partir desse determinado gancho, o que acaba não acontecendo. Simplesmente começamos um novo episódio com um pulo narrativo e quase descontinuado. Talvez falte algum tipo de sintonia durante a produção para que isso seja evitado.
O desfecho
Apesar das referências e menções ao Universo Cinematográfico da Marvel, Punho de Ferro não traz grandes surpresas além da nova vilã Mary Tyfoid. Após o desfecho de todas as tramas e subtramas, somos encaminhados para um misto de euforia com frustração. Se por um lado comemoramos o “Punho de Ferro” de Colleen Wing, por outro voltamos aos percalços de Danny Rand e sua constante luta por “auto-conhecimento”. Temos alguns ganchos lançados para próxima temporada que oscilam entre interessantes (permanência de Mary Tyfoid) e outros nem tanto. A viagem de Danny e Ward para o oriente é um tanto aleatória. Ah, e lembra o lance de deslumbrar no final, encerrar com chave de ouro? Pois é, até tentaram, mas talvez o uso dos poderes do Punho de Ferro na cena final tenham sido uma das maiores vergonhas alheias já vistas na parceria Marvel/Netflix. Não deu certo.
Por fim, mas não menos importante, temos uma cena pós-créditos onde vemos que Matt Murdock/Demolidor não está desaparecido ou morto, como sugerido em Defensores. Aliás, a terceira temporada do Demônio de Hell’s Kitchen chega ainda em 2018.
E você, o que achou dessa segunda temporada de Punho de Ferro? Deixe nos comentários!