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Luke Cage: música, ‘fan service’ e uma boa série

Vamos direto ao ponto: Luke Cage é uma boa série, mas tinha potencial para mais. O herói de aluguel dos quadrinhos migrou para as telas de TV e teve suas primeiras aparições na excelente série de Jessica Jones em 2015. O que parecia uma ponta foi bem mais que isso e, o personagem lançado pela Marvel nas histórias do Homem-Aranha nos anos 80, ganhou sua série solo no dia 30 de setembro de 2016, com todos os episódios disponíveis.

E como já sabemos, é impossível desvincular Luke Cage do universo expandido da Marvel na Netflix, com duas temporadas de Demolidor e a própria Jessica Jones. Talvez more aí a expectativa por algo a mais, mas nada que vá desmotivar o espectador. A concorrência era quase desleal para um personagem tão desconhecido do grande público, principalmente pela segunda temporada de Demolidor, que nos presenteou com aparições importantíssimas do Justiceiro e de Elektra.

Luke Cage (Mike Colter) começa bem, contando a origem do personagem do Harlem (o bairro vizinho à já conhecida Hell’s Kitchen) e essa ambientação é um dos pontos altos da produção. A trama inicial prende e apresenta vilões com grandes potenciais, mas nomes e traduções um pouco duvidosas: Boca de Algodão (Mahershala Ali/ House of Cards), Kid Cascavel (Eric LaRay Harvey) e a melhor delas, a vereadora Mariah Dillard (com a ótima Alfre Woodard). Soma-se a eles a policial Misty Knight (Simone Missick), Shades (Theo Rossi / Sons of Anarchy) a já apresentada enfermeira Claire Temple (a sempre querida Rosario Dawnson, Demolidor, Jessica Jones) e a representante brasileira da série, Soledad Temple, interpretada por Sonia Braga.

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A serenidade no olhar de quem manda no Harlem

Outro ponto alto é a alta relação da série com o Harlem e sua cultura, principalmente a musical. Essa relação nos acompanha durante todos os 13 episódios, e em determinados momentos é um alento, tamanha a qualidade dos músicos envolvidos e a sonoridade. Parabéns aos envolvidos. Todas essas inserções são ótimas e marcantes, com destaque maior para o rap feito para Luke Cage por um de seus admiradores já nos episódios finais. Nessa inserção de bairro com a vida diária, dá para salientar ainda a relação da comunidade negra com a polícia e traçar algumas críticas sociais bem importantes com o que se vive atualmente nos Estados Unidos. Mais um ponto para Luke Cage.

No entanto nem tudo é tão legal assim: ~Alerta de Spoiler!~, pule as próximas linhas.

A morte de Boca de Algodão, apesar de pegar a todos de surpresa e dar força à vilã principal, acaba tirando um dos bons vilões e conflitos da trama. Então a ideia é de subir o nível das maldades e somos apresentados a Kid Cascavel, que por fim, por mais que se comprove, não tem lá todas as motivações que seu antecessor. Ou pelo menos não convence tanto. Aqui também sentimos a falta de uma ameaça maior, afinal, estamos lidando com Luke Cage, o Houdini à prova de balas! E essa ameaça passa a ser balas capazes de atravessar sua pele, que é mais dura que o aço. Vale pela referência aos armamentos Hammer, já vistos nas HQs e nos filmes do Homem de Ferro. Aqui também reside a parte do “precisamos frear a história para termos 13 episódios”.

Aliás, já podemos identificar esse caminho como uma tradição e uma característica das séries da Netflix que, além de não ajudar a trama, nitidamente ficam, como falamos aqui no Rio Grande do Sul, enchendo linguiça. Isso fica evidente após a queda de Cage em um caminhão de lixo depois de levar um tiro. Que explicação ruim para ele não levar mais chumbo. Aí entramos também em uma sequência desnecessária quando Cage e Claire buscam achar uma solução clínica para salvar o herói. Mas ok, sem spoilers aqui, veja você mesmo e depois volte para comentar se você concorda ou não.

Então, depois de um começo promissor, a série perde o gás, mas ele volta com as partes finais, e o desfecho, onde temos finalmente uma ameaça a altura de um personagem que é quase inquebrável.

As referências

Como não podia deixar de acontecer, Luke Cage traz as famosas referências ao mundo Marvel da TV, Quadrinhos e Cinema. O ‘fan service’ que todos esperam. Elencamos alguns abaixo. Caso lembre de algum outro, deixe pra gente nos comentários:

  • Reva, amor principal de Cage e já apresentada em Jessica Jones tem papel importante na criação do personagem;
  • A cena em que Cage sai do tanque após ganhar seus poderes coloca o personagem com a ‘tiara’ e as pulseiras de ferro, características de seu uniforme nas Histórias em Quadrinhos;
  • Após fugir de Seagate, Cage rouba uma camisa amarela de um varal, em outra clara referência ao seu uniforme das HQs dos anos 80 (ainda bem que o tempo passa);
  • Tiara também é um dos nomes dos arquivos descobertos por Cage no pendrive deixado por Reva;
  • Matt Murdock, o Demolidor, é citado indiretamente por Claire Temple em pelo menos dois episódios;
  • Trish, de Jessica Jones, aparece falando das notícias do Harlem e Luke Cage em seu programa de Rádio;
  • Stan Lee aparece em um cartaz em uma loja onde Cage salva os funcionários após fugir da polícia;
  • Misty não chega a perder o braço, mas quase, em uma clara referência aos quadrinhos;
  • Herói de aluguel, como é conhecido nas HQs, é referência seguida também em diálogos e no rap feito por um dos admiradores de Cage em um programa de rádio;
  • As chacinas de Justiceiro em Demolidor são citadas em pelo menos dois episódios;

Enfim, Luke Cage realiza um bom trabalho aos fãs e aos marvetes como nós, mas deixou a impressão que seria ainda melhor que seus antecessores, o que não foi. Agora, fica a expectativa pelas séries já anunciadas pela Marvel, como Justiceiro (em gravação), Punho de Ferro (que chega em março de 2017) e a reunião de toda a trupe na série dos Defensores, também com estreia no ano que vem. Aliás, viram as fotos deles juntos na NY Comic-con? PIRAMOS!

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Os Defensores estão chegando!

Veredito da Vigilia

3 comentários sobre “Luke Cage: música, ‘fan service’ e uma boa série

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